LinuxWorld, dias 2 e 3

Os dias seguintes da LinuxWorld foram mais importantes para mim. Com calma, visitei estande por estande para verificar o que as empresas estão oferecendo e qual os seus modelos de negócios. Um longo trabalho, porque eu imagino que tinha mais de cem estandes, e algumas empresas tinham produtos e serviços bem interessantes.

Me impressionou bastante nesta edição da LinuxWorld a quantidade de empresas vendendo ferramentas de monitoração e configuração distribuída de servidores. Sinceramente eu não sei se tem mercado pra tanta gente. Inclusive no Brasil pipocou um monte de empresas com essas ferramentas. Aqui na LinuxWorld é difícil achar uma ferramenta bacana livre. Muitas empresas querem seguir o modelo de negócios da Microsoft, de licença por usuário. Esse tipo de software é capaz de dar certo com esse modelo de negócios, porque as ferramentas tradicionais (CA TNG, IBM Tivoly, HP Openview) são absurdamente caras, o que proíbe qualquer empresa de pequeno-médio porte de adquirí-las.

Outra coisa interessante é que está nascendo uma série de alternativas de groupware rodando em Linux. As melhores que eu vi foram feitas para web com interface ajax. Muito interessante. Algumas das soluções têm conectores para Microsoft Outlook. O que me preocupa nessa área é que ainda não tem existe um protocolo forte para calendário compartilhado. Cada ferramenta está fazendo do seu jeito, o que é terrível para interoperabilidade.

Em 2003 quando estive aqui, vi muitas soluções diferentes para clusters HPC (alta performance). Novamente vi muitas empresas oferecendo vários tipos de soluções diferentes para HPC, tanto em software como em hardware. Imagino que o mercado de computação pesada anda bem forte por aqui, talvez porque deve haver muitas empresas querendo substituir seus main frames por servidores em plataforma Intel com sistema operacional livre, o que é bem mais barato.

O que foi novidade mesmo para mim este ano aqui foi a quantidade imensa de empresas com soluções para storage. Realmente fiquei impressionado. A tecnologia SATA (serial advanced technology attachment) abriu uma boa janela para surgir uma série de equipamentos baratos para montar array de discos. Se via de tudo por aqui, como storages com conexão firewire (400 Mbps) completamente stand alone, storages com conexão tradicional de fibra óptica, com conexão ethernet (NAS). Vi também uma série de placas PCI express (ou outras variações de PCI) para fazer array com discos SATA. Algumas delas suportando até 24 discos, com um esquema de cabeamento interno bem interessante.

O mais interessante é que todas as empresas tinham equipamentos muito similares, embora com marcas diferentes. Estou seguro de que algum grande fabricante asiático está fazendo essas placas em modo OEM para todas essas empresas, o que também tem acontecido muito no mercado de servidores. Experimente pegar um servidor Itautec no Brasil e abrí-lo. Vem tudo da Supermicro, trocam apenas o logotipo. Falando em Supermicro, eles também estavam com um bom estande mostrando vários modelos de servidores a baixo custo.

Rack AMD Quem está atacando agressivamente no mercado de servidores é a AMD, com sua linha de processadores 64 bits. Sinceramente eu imagino que eles já estão incomodando a Intel. Grandes fornecedores de servidores, como a HP, já estão fornecendo servidores e soluções completas com processadores AMD. O que mais me chamou a atenção na AMD foi o foco do marketing deles: energia. Eles estão fazendo uma campanha monumental aqui nos Estados Unidos dizendo que os processadores deles consomem muito menos energia e dissipam muito menos calor que os processadores da concorrente. Estive conversando por meia hora com um engenheiro da AMD sobre isso e ele me mostrou um rack (na foto ao lado) com 44 servidores, 88 processadores, onde o consumo de energia elétrica era em torno de 50% a menos que o “normal” e a quantidade de energia necessária para refrigerá-lo era em torno 70% a menos que o “normal”. O que eu achei bacana é que o rack é todo alimentado por corrente contínua, então as máquinas não têm fontes. Inteligente.

Outro assunto muito forte este ano na LinuxWorld foi virtualização. Várias soluções diferentes, algumas até embarcadas em hardware. A Vmware estava com um estande mostrando várias soluções interessantes. Estive conversando com uma pessoa no estande deles, que me mostrou um servidor bi-processado com algo como 4 GB de memória rodando 24 máquinas virtuais com uma performance razoável para pequenas aplicações. O estande da Dell estava atacando forte nesse assunto também, apresentando soluções diferentes, como Vmware e Xen.

Estou seguro que virtualização vai ser muito breve algo muito comum na área de servidores. É possível dizer hoje em dia com bastante segurança que nunca desperdiçamos tanta energia e poder de processamento para fazer tarefas simples. Qualquer servidor moderno hoje em dia tem uma capacidade de processamento infinitamente maior do que seus usuários precisam de fato.

LTSP Na quarta-feira à noite fomos jantar numa churrascaria brasileira em San Francisco, chamada Espetus, conforme havíamos reservado um dia antes. Essa foi a janta oficial do Projeto LTSP este ano. Éramos 16 pessoas, alguns envolvidos de fato com o projeto, outros apenas amigos e convidados. Chegamos pouco antes das 18h e já nos receberam com uma boa caipirinha, pão de queijo (excelente) e banana à milaneza. O pessoal ficou impressionado com a capacidade que eu tenho que saber quando uma pessoa é brasileira apenas ouvindo ela falar. Para mim é algo extremamente simples. É muito fácil reconhecer o seu próprio sotaque. Todas pessoas envolvidas com a carne nessa churrascaria eram brasileiras. Você pode conferir as fotos da janta na galeria. As pessoas que nunca tinham ido em um restaurante brasileiro ficaram impressionadas com a qualidade da comida e com o fato de poder comer até explodir, coisa que não é nada comum aqui. Como de costume, o criador do projeto, James McQuillan, apresentou todos na mesa. Foi uma noite bacana. Nos divertimos bastante. Como aconteceu em 2003, uma boa alma resolveu pagar a janta de todos, que foi algo em torno de US$ 700,00.

Cable car Na volta para o hotel, resolvemos pegar um ônibus histórico, que assim como os bondinhos, anda sobre trilhos. É algo realmente muito antigo e bem divertido de andar. O pessoal foi direto para o hotel, mas como essa era a minha última noite livre em San Francisco e era cedo, como 20h30, resolvi ir caminhando até a baia e curtir um pouco da bela paisagem. Fiz algumas fotos passeando pelos peers da cidade. Esta cidade é simplesmente impressionante.

No último dia da LinuxWorld eu cheguei um pouco mais tarde no pavilhão. Tirei a manhã para arrumar as minhas coisas para deixar o hotel e responder alguns e-mails. No caminho para o centro de convenções, passei na loja da Apple, que é espetacular. Me impressionou a quantidade de acessórios que surgiram para os iPods. O mais interessante são as caixas de som que vários modelos diferentes fabricadas pela renomada JBL. Basta você encaixar o iPod no dock da caixa de som e ok. Algumas caixas pequenas têm um som impressionante. Alguns modelos têm até sintonizador FM e outros recursos diversos. Como eu já estava planejando, comprei um iPod nano para música (eles têm modelos para vídeo também) e um transmissor FM, o que eu achei sensacional para usar no carro. Como meu carro não tem som com MP3 e eu não pretendo trocar o som original de fábrica, agora basta eu sintonizar o rádio na mesma freqüência que o iPod está transmitindo e aí está horas e horas de música. Adeus para as minhas dezenas de CDs no porta-luvas. 🙂

Às 16h em ponto as luzes do Moscone Convention Center escureceram um pouco, anunciando o fim de mais uma grande conferência. Empacotamos tudo no estande do LTSP para a transportadora pegar os containers mais tarde e fomos para um restaurante italiano próximo, onde comemos uma boa pizza italiana, com a tradicional massa crocante. Na verdade, eu prefiro pizza brasileira, com pão fofo. Nós tínhamos que estar às 21h no aeroporto para buscar o carro que o James tinha reservado, então tínhamos bastante tempo. Nada como tomar bastante cerveja para passar o tempo.

20h30 pegamos o BART em direção ao aeroporto. Chegando lá, fomos direto para uma área específica do aeroporto para as empresas que alugam carros. Fiquei super impressionado com o tamanho desse negócio. Alugar carro nos EUA é muito barato, e como tudo é longe e táxi é absurdamente caro, todo mundo aluga carros. O interessante é a maneira prática como a coisa funciona aqui. Acessamos direto a garagem da Hertz, uma imensa garagem com centenas de carros e todas as vagas numeradas. Carros de todos os tipos, desde carros simples, camionetes, até Corvettes e Jaguars, tudo para alugar. Quando você reserva o carro na Internet, o sistema lhe diz o número da vaga na garagem para você pegar o carro. Você vai direto até a vaga, onde o carro está lhe esperando com o chave dentro. Você pega o carro e na saída da garagem um atendente verifica os seus documentos e você assina os papéis do aluguel. Muito prático. Alugamos um Toyota Highlander, muito similar com uma Ford Ecosport no Brasil. A diferença “básica” é que essa tem um motor V6 e é muito mais confortável. Aqui pode ser considerado como “carro popular”.

Essa é uma das coisas que mais chama atenção dos brasileiros aqui, os carros. Todos os carros aqui seriam “carros de rico” no Brasil. Eles aqui nunca acreditam que a gente dirige carros 1.0 no Brasil. É realmente uma piada. No início do governo Collor em 1992, ele dizia que o mercado deveria ser aberto porque nós não andávamos de carro, e sim de carroças. O mercado foi aberto e de fato a qualidade melhorou muito, mas está muito aquém do ideal. E isso tem uma super simples razão. Quando você compra um carro no Brasil, você paga um carro para você e dois carros para o governo. Sim, isso mesmo, carros pagam normalmente no Brasil 65% de imposto. Isso é uma vergonha! Com o valor do meu Vectra no Brasil, eu andaria num belo BMW por aqui. Um carro popular aqui (motor 4 cilindros 2.0, ar condicionado, air bag, direção hidráulica, etc) custa em torno de US$ 15.000 novo.

Assim que pegamos o carro no aeroporto, fomos direto para Mountain View, uma pequena cidade ao sul de San Francisco, no coração do Vale do Silício, onde ficam concentradas todas as grandes empresas de tecnologia do mundo. A razão de ficarmos em Mountain View seria a conferência Ubucon na sede principal do Google.

Assim que chegamos no hotel Quality Inn, a primeira coisa que descobri é que o Google tem uma rede wi-fi em toda a cidade de Mountain View, chamada Google WiFi. Então, em qualquer lugar onde abrimos o laptop aqui, temos Internet rápida e de graça. Muito legal!

No próximo post comento como foram os dias na sede do Google.