Emendando mais uma viagem em novembro, logo após a chegada de Foz do Iguaçu, fomos meu sócio Pablo e eu para Chicago, participar do RSNA Meeting 2007, maior conferência de radiologia do mundo, que acontece anualmente em Chicago sempre nessa época. Chegando lá, encontramos nossos amigos, e parceiros de negócios, Luis Lemarroy, vindo de Seattle, James McQuillan, Duane e Kimberly, vindo de Detroit.
Deixamos São Paulo dia 24 de novembro com mais de 30 graus de temperatura. Já sabíamos o que nos esperava por lá. A previsão era abaixo de zero todos os dias. Depois de um vôo direto de 11 horas, chegamos em Chicago no meio da madrugada, com -4c de temperatura. Quando estive em Portland em agosto, comprei uma bela jaqueta de couro pra frio pesado. Usei ela duas vezes apenas no inverno de Porto Alegre, e já foi um exagero. Havia chegado a oportunidade correta de precisar usá-la.
Embora frio, a noite estava linda, bem aberta. Chegamos no aeroporto O’Hare International, um dos maiores do mundo, com uma infra-estrutura fantástica. Pousamos tranqüilamente na pista 28, após uma aproximação direta por cima do lago Michigan, logo a leste de Chicago. Saindo do avião, não percebemos muito o frio porque como qualquer prédio na cidade, o aeroporto é todo climatizado. O processo de imigração não levou mais de meia hora. Com a tradicional antipatia de sempre, o oficial me liberou em segundos sem me fazer qualquer pergunta, provavelmente porque meu histórico de entradas e saídas está sem nenhuma irregularidade. Pablo não teve a mesma sorte, pois a oficial que o atendeu resolveu fazer um monte de perguntas.
Quando saímos pra rua para chamar um táxi que sentimos a paulada térmica. O grande problema de Chicago é o vento. Não é à toa que o apelido principal da cidade é Windy City. O vento faz a sensação térmica ser muito mais baixa que a temperatura medida. Não agüentamos um minuto na rua e voltamos rápido pro terminal, pra fechar as jaquetas até o pescoço. Pegamos um táxi e logo já estávamos no hotel, que era próximo ao aeroporto. Tomamos um café da manhã e aguardamos por Luis, que chegou no mesmo aeroporto no início da manhã.
Como não tínhamos muito o que fazer no domingo, pegamos o metrô e fomos pro centro, onde passamos o dia caminhando. A temperatura durante o dia não passou dos -2c. É incrivelmente gelado. Em Porto Alegre a gente só vê esse tipo de temperatura no auge da madrugada, quando estamos bem enrolados nas cobertas. Ninguém cogita andar caminhando na rua assim. Fizemos algumas compras e íamos nos mantendo quente à base de um bom Starbucks café.
James e sua turma chegaram de carro de Detroit depois do almoço e se hospedaram num hotel próximo ao nosso. Tínhamos uma janta marcada às 17h na bela Churrascaria Fogo de Chão com um cliente da empresa do James, que vinha de Rochester, NY. James passou de carro pra nos pegar algo como 16h15 e o sol já estava se pondo. Como era o fim do final de semana de ação de graças, as vias expressas (highways) estavam tudo lotadas. Levamos quase uma hora até o centro, onde fica a churrascaria.
Churrascaria é sempre uma festa, especialmente lá, onde sempre tem alguém que não sabia do que se tratava. Eu já tinha estado nesse restaurante em 2006, porém no verão. A carne, como sempre, estava maravilhosa e o ambiente tipicamente brasileiro, com bastante gente rindo e se divertindo. Missão cumprida, cliente feliz. É sempre o objetivo de qualquer empresário. 🙂
Na segunda-feira começou de fato nossas atividades na conferência. O evento foi no McCormick Place, que é o maior centro de eventos do EUA e o terceiro maior do mundo. O centro é incrivelmente grande. Caminhávamos tranqüilamente uns 2 km (20 quadras) para ir de uma ponta à outra. No final dos dias estávamos bem cansados, de tanto caminhar. A exposição deveria ter umas 1000 empresas, e tínhamos como missão conversar com todas. Obviamente não conseguimos isso, então tivemos que selecionar as melhores. Mesmo não atingindo 100% do nosso objetivo, tivemos um grande êxito na ida à conferência. Conversamos com tanta gente de tantos lugares diferentes, que no final tivemos que fazer um resumão de tudo para obter melhores resultados.
No meio da semana resolvemos alugar um carro, pois tínhamos várias voltar para dar em Chicago e estava bem complicado de andar de metrô, especialmente porque nosso hotel era muito longe, perto do aeroporto, e o frio estava aumentando dia após dia. Felizmente no próprio centro de eventos havia uma locadora de automóveis, então chegamos ali, negociamos rapidamente uma tarifa bacana, e logo em seguida saímos com o mais básico dos básicos, um Hyundai Elantra 2.0, 10 airbags, automático, direção elétrica, etc etc… Se perder em Chicago não seria nenhum problema, graças ao meu Nokia N95 com GPS. Pablo era o meu navegador. Não tinha erro, conhecíamos Chicago na palma de mão literalmente.
Na primeira noite com o carro, caímos numa puta armadilha. Estacionamos o carro na Best Buy para umas comprinhas e do outro lado da rua havia uma Circuit City. Atravessamos a rua para comparar preços e meia hora depois quando voltamos, cadê o maldito carro??? Roubaram! Impossível roubar um carro sem chaves hoje em dia. Guincharam!! Olhamos num poste, uma plaquinha minúscula avisando que se saíssemos do estacionamento por um segundo, o carro seguia guinchado e a multa era US$ 170,00. Claro que havia um querido contratado ali só para chamar o guincho. Telefonamos para o número informado na placa e realmente o carro estava lá no depósito, que ficava há umas 6 quadras de onde estávamos. Depois de muito quebra pau no telefone, não tinha o que fazer. Caminhamos até lá e vimos o tamanho da máfia. Um monte de gente no mesmo desespero e um caminhão entrando a cada 3 minutos com um novo carro. Na foto ao lado, eu discutindo com um atendente mal encarado atrás de grades e um vidro blindado. O cara foi curto e grosso: ou paga, ou fica a pé.
Nos últimos dias, Luis, James e sua turma já tinham se ido. Nos juntamos a uns amigos de Porto Alegre que também estavam na conferência. Na sexta-feira, almoçamos todos na The Cheesecake Factory (fábrica de torta de queijo). Cheesecake é uma sobremesa muito tradicional americana, e é fascinante. No Brasil se encontra, mas não é muito comum. Nesse restaurante tinha 47 modalidade delas. Como eu queria ter comido todas. De prato principal, fui num burrito mexicano maravilhoso, que me deixou com a boca pegando fogo de tão picante. Fotos acima.
No mesmo dia à noite, com a conferência já encerrada, saímos com mais calma para caminhar pelo centro. Estava um frio desgraçado, com sensação térmica beirando os -10c. Tivemos que parar todos para tomar um shot de tequila, que nos ajudou bastante. Logo em seguida, entramos numa loja para comprar luvas e gorra, pois não havia condições de andar com qualquer parte exposta do corpo. Fomos até o The Sears Tower, hoje o prédio mais alto dos Estados Unidos, para tentar subir no último andar, mas já estava fechado. Então tiramos algumas fotos pelo saguão, que estava lindo, decorado para o natal. A foto ao lado foi na árvore de natal do saguão, imensa como o prédio que a abrigava. Fomos então para o segundo mais alto, o também famoso John Hancock Center, onde havia um restaurante aberto no último andar. Chegando lá, o restaurante realmente estava aberto, e ficava no 96o andar. Foi o restaurante com a vista mais fascinante que eu já estive na vida. De lá, tirei esta foto magnífica, com o The Sears Tower no fundo:
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Sábado seria nosso último dia em Chicago. Conforme a previsão do tempo já vinha anunciando, seria um dia de neve. Acordamos cedo para deixar as malas prontas e nada de neve, mas a TV já estava dando alerta de forte nevasca se aproximando, conforme foto ao lado. De fato, não tardou muito e começou a nevar, o que nos deixou fascinado, vendo tudo ficar branco aos poucos. Teríamos um dia divertido pela frente. Havíamos combinado de buscar nossos amigos no centro para dar uma volta antes de irmos para o aeroporto. A neve começou a apertar, e mesmo assim nosso espírito de aventura nos forçou a sair de carro. Essa era a primeira vez que estávamos vendo neve. Estive nos EUA várias vezes antes, mas sempre no verão e uma vez no outono. Havia visto neve na cordilheira dos andes no Peru, mas não é a mesma coisa. Quando saí no estacionamento para buscar o carro, já senti o perigo. Quase me matei no chão resvalando. Esta era a portaria do hotel depois de apenas uma hora nevando:
Saímos dirigindo com todo o cuidado do mundo. Não havia aderência alguma na pista. Eu mal tocava no acelerador e o carro patinava. Naquele momento que eu vi porque os americanos gostam tanto de SUVs. Tudo o que eu queria ali será um bom pneu e um controle de tração. Felizmente, o carro tinha freios ABS, o que é obrigatório nos EUA, e infelizmente alto luxo no Brasil. Pegamos a Interstate I-90 em direção ao centro, e logo em seguida já vimos os caminhões gigantes soltando sal na pista para derreter a neve. Felizmente, os motoristas por lá são muito civilizados, diferente do que estamos acostumados aqui. Todo mundo estava mantendo uma distância muito segura. É muito comum dar acidentes envolvendo 20-30 carros nessas situações. Mesmo com ABS, o espaço necessário para frear um carro é incrivelmente grande. Sem ABS, seria um desastre total a cada toque no freio. Aí está o caminhão que solta sal por trás e tem uma mega pá na frente para abrir caminho:
A seguir uma seqüência de vídeos que fizemos dirigindo:
Como levamos quase duas horas pra chegar no centro dirigindo daquele jeito, não nos restou muito tempo. Praticamente demos oi, tchau, e voltamos. No caminho, paramos em uma Office Depot para comprar o que faltava, onde tiramos estas fotos:
No caminho para a entrega do carro, paramos pra abastecer. A neve já tinha acabado, mas o pior sempre é o que vem depois da neve, que é a freezing rain (chuva congelante). Realmente é terrível, como pode se observar na foto ao lado, do carro congelando. Estava tão frio que eu não conseguia tirar a bomba de gasolina do seu suporte, pois estava tudo congelado. O buraco por onde se enfia o cartão de crédito estava tapado de tanto gelo. Nunca foi tão difícil e triste abastecer um carro. Devolvemos o carro no aeroporto e fomos para o nosso terminal de embarque. O aeroporto estava fechado para pousos e decolagens, mas como a tempestade estava se afastando, abriria em seguida.
Aí estava o Boeing 767-300 que nos traria de volta ao Brasil, parado no portão C9. Em função de o aeroporto ter ficado fechado por várias horas, 550 vôos foram cancelados. O aeroporto já estava aberto na hora do nosso vôo, mas a nossa tripulação ficou presa em Minneapolis, então não havia ninguém para conduzir-nos de volta. Nos mandaram para um hotel próximo e remarcaram o vôo para o dia seguinte às 10h da manhã. Chegamos no tal hotel às 3h da madrugada, loucos de fome. A merda do hotel não tinha serviço de quarto 24 horas, então pedimos uma pizza qualquer. Dormimos algumas horas e já voltamos pro aeroporto. Pelo menos o cartão de embarque era o mesmo, então não precisamos esperar praticamente nada. O vôo saiu de fato às 10h, 14h no Brasil, e fizemos quase todo o trajeto diurno, o que foi uma maravilha pra mim, pois não consigo dormir.
Sobrevoamos as Bahamas, em seguida o Haiti, um pedacinho da República Dominicana e entramos na América do Sul ligeiramente a leste de Caracas, na Venezuela. Passamos exatamente em cima de Manaus e depois voamos direto até o aeroporto internacional de São Paulo, onde chegamos pouco antes das 2h da madrugada. Tracei todo o trajeto com o meu GPS. Clique na imagem para baixar o trajeto em formato Google Earth. É muito bacana.
Como tínhamos dado no show no vôo para Porto Alegre, tínhamos que conseguir uma remarcação para o próximo vôo disponível. Felizmente, a Tam tinha um vôo às 4h30 da madrugada, onde conseguimos vaga. A espera não foi muito grande. Para a nossa surpresa, o aeroporto todo estava às escuras, sem luz. E por isso, todos os balcões de check in estavam parados. O gerador de Infraero não estava funcionando. É, havíamos chegado no Brasil. :-/
Foi uma viagem rápida, porém muito produtiva. Um ótimo investimento para 2008, que já deve começar agitado nos negócios.