Por Cusco

Emendando o último post, dia 15 acordamos cedo e fomos para o aeroporto. Nos recomendaram chegar sempre 2 horas antes do voo, mesmo que seja doméstico, porque as filas nos aeroportos peruanos são sempre grandes. Nosso voo era próximo das 8h30, então deixamos o hotel pouco antes das 6h. Perguntamos na recepção do hotel se chamariam um táxi para nós. Como eu já esperava, a resposta foi ir até a esquina que logo passaria um, mesmo sendo 5h45 da madrugada. De fato, não esperamos nem 5 minutos.

Como chegamos bem cedo no aeroporto Jorge Chávez, praticamente não havia fila no check in da Star Peru, companhia aérea peruana que nos levaria até e Cusco. Os voos pela Star Peru normalmente são bem mais em conta que nas tradicionais Lan e Taca. Em contrapartida, eles operam aeronaves bem mais velhas. Nosso voo foi num Boeing 737-200, antigo mas bem cuidado. Embarque e decolagem no horário, tudo bastante rápido e prático.

Lima, pra variar, sempre cinza. Decolamos da pista 15 e mantivemos a proa da pista (sudeste) por vários minutos, até livrar uma altitude segura pra sobrevoar as cordilheiras. Em seguida que dobramos pra interceptar nossa aerovia pra Cusco, já impressiona a altitude das montanhas e vários picos nevados. Voamos a 35.000 pés, sempre com uma vista estonteante.

O aeroporto de Cusco é um dos mais altos do mundo, a 10.860 pés (3.310 metros) de altitude. Nessa altura, o ar é extremamente rarefeito, então qualquer manobra voando deve ser feita com muito cuidado e geralmente muita velocidade. Antes de decolarmos em Lima, consultei as cartas aéreas de Cusco para ver como seria a aproximação. Embora Cusco esteja a 3400 metros em média, a cidade é um “buraco”, pois está cercada de morros na casa dos 4500 metros. Em função disso, não existe aproximação por instrumentos (ILS), pois é impossível projetar uma longa final em nenhuma das cabeceiras da pista. Sempre vai haver um grande morro a frente. A pista em cusco é a 10-28 (leste-oeste) e só há operações de um lado. Todos os pousos são na 28 e todas as decolagens são na 10, não interessa o vento. É assim pois a única forma de aproximar, e afastar, é a leste-sudeste do aeroporto, onde há um pequeno vale que se pode voar “baixo”. Esse vale não está exatamente na reta da pista. O procedimento de aproximação obviamente é visual. Sobrevoamos o setor sul do aeroporto, circulamos no tal vale, no setor leste, e viemos pra pouso. O alinhamento final é feito próximo à cabeceira, pois há um morro enorme atrás dela. Detalhe: toda essa manobra foi feita mantendo 450-500 km/h. Full flaps só na final, e tocamos na pista a 310 km/h, medidos pelo GPS (ground speed). Muito sinistro. Definitivamente não é qualquer piloto que opera por aqui, ainda mais com um jato.

Chegando em Cusco, e até mesmo já no avião, percebemos a invasão turística do local. A quantidade de japoneses no voo era algo. O aeroporto de Cusco é pequeno, mas é bem arrumadinho. Esperamos poucos minutos para ter nossas malas. Nos dirigimos a uma cabine de táxis e negociamos o táxi até o hotel. Lembre-se que não existe taxímetro por aqui. 6 soles (algo como R$ 3,00) até o hotel, e não era perto. O motorista era muito gente boa, e como era de se esperar, um peruano muito nacionalista (todos são). Brasileiro é muito bem-vindo em qualquer lugar, e ele naturalmente ficou feliz de saber de onde éramos. Nos dirigiu até o hotel falando muito sobre o que podíamos fazer pela região. Enfim, toda a região de Cusco vive praticamente do turismo, e eles se esforçam para tratá-los bem.

Cusco é uma cidade bastante pobre. Seus 350 mil habitantes vivem direta ou indiretamente do turismo. Muita gente vive do artesanato. A quantidade de gente vendendo de tudo nas ruas é impressionante. As pessoas abordam bastante, inclusive crianças pequenas vendendo de tudo. Algumas até imploram para que você compre algo. Chega a dar pena.

A primeira coisa que se percebe ao chegar em Cusco obviamente é a altitude, especialmente para quem não está acostumado. Desde que eu nasci, vivo ao nível do mar, e qualquer coisa acima de 700 metros é considerado serra no Brasil, ou seja, ninguém no Brasil sabe o que é mal de altitude. Na Costa Rica, eu já havia estado por uns momentos a 2800 metros, e senti bastante cansaço ao caminhar. Aqui é tudo ao redor de 3400 metros. Você percebe rapidamente que a sua frequência respiratória e cardíaca aumentam, especialmente ao fazer qualquer esforço, como subir uma escada. Ao chegar no hotel, na verdade uma hospedaria, tinha que subir um lance de escadas. Nunca senti a minha mala tão pesada. Parecia que tinham enchido ela de pedras. Bastou um vão de escada para me deixar com falta de ar e o coração tum-tum-tum-tum. Sempre que os locais recebem um visitante em Cusco, é tradição oferecer antes de tudo um chá de coca, que é um santo remédio para altitude. Todos os hotéis fazem a mesma oferta. Obviamente não dispensamos. 🙂

Nos hospedamos na “Hospedaje Monte Horeb”, que fica na rua Juan de Dios (13°31’1.24″S 71°58’53.14″W). Tudo bem arrumadinho, quarto privativo, água quente e Internet wireless. O melhor era a localização, a 200 metros de Plaza de Armas, centrão de Cusco. Hospedagem em Cusco é relativamente tranquilo, pois há milhares de opções, desde hotéis mais tradicionais, e mais caros, até albergues da juventude, bastante baratos. Embora essa região seja uma das mais visitadas do mundo, não existe uma exploração turística muito absurda em termos de preços, pois a maioria dos hotéis e restaurantes é de gente local. Também porque a quantidade de mochileiros é enorme, e essa galera geralmente viaja com grana curta. Pelo jeito, os turistas curtem muito essa coisa de tudo ser regional. Eu, particularmente, acho excelente. Por incrível que pareça, não vi nenhum McDonalds em Cusco. Em Lima, há por todo canto, assim como Starbucks e outras grandes cadeias multi-nacionais.

Nossa estadia em Cusco seria até o dia 20, quarta-feira, para dar tempo de ir a Machu Picchu e conhecer algo do vale sagrado dos Incas. O grande problema é que não tínhamos nada certo para isso. Tentamos comprar os tickets de trem para Machu Picchu via Internet, mas a concessionária da linha de trem, a PeruRail, só aceita cartões Visa que participam do programa Verified by Visa, algo raro no Brasil. O pior de tudo era que quase não havia mais vagas no trens, então tínhamos que correr para conseguir algo por Cusco mesmo. Nosso amigo Daniel nos passou o contato de um agente de viagens de Cusco que podia fazer a mão toda. Chegamos no hotel, arrumamos as coisas e fomos para rua, para conhecer algo do centro e ir até o tal agente.

Chegando na Plaza de Armas, havia uma festinha popular, com um bloco de gente fantasiada e músicos. Não sei exatamente o que estavam celebrando, mas estava bastante divertido e rendeu algumas fotos interessantes. Como carregavam a imagem de uma santa, suponho que fosse algo religioso. A Plaza de Armas é o ponto mais central de Cusco, onde “todo mundo se encontra”. Há algumas igrejas coloniais ao redor, várias agências de viagens, restaurantes, algumas hospedarias e muita gente vendendo de tudo. É um lugar bastante agradável de sentar e ficar observando o movimento de centenas de turistas, e muitos locais, pra todo lado.

Tínhamos o endereço da nossa agência de viagens, mas nenhum mapa nosso mostrava a tal rua. Pedimos informação e chegamos à conclusão de que o tal endereço estava além do mapa, logo era um pouco longe, mas dava pra ir caminhando. Fomos caminhando pela Av. El Sol (foto ao lado), que é uma das principais da cidade, concentrando repartições públicas, bancos, correios, etc. Depois de uma meia hora caminhando e pedindo informação, chegamos no tal lugar. Falamos com o tal agente, que nos deu algumas opções, mas não tinha certeza de nada. Resulta que nada se resolveu e ele ficou de nos ligar antes das 17h00. Como já era meio-dia, decidimos almoçar ali por perto mesmo. Almoço: cebiche e pescado, claro. 🙂

Depois do almoço, voltamos tudo pela Av. El Sol, só que agora subindo a avenida. Era uma inclinação pequena, mas me sentia como subindo uma montanha. Como o clima é estupidamente seco nas alturas, o sol frita. A temperatura ao dia estava na casa dos 23 graus. Se você fica na sombra, sente frio, no sol, torra. O negócio mesmo é andar sob o sol, sempre usar um boné ou chapéu e óculos escuros, e claro, SEMPRE protetor solar. No caminho, passamos um centro de artesanato bem legal, onde as coisas eram normalmente mais baratas que com os ambulantes. Como à noite a temperatura é sempre próxima de zero graus, já comprei uma gorra de lã. Ia comprar uma manta também, mas nenhuma me agradou muito. A Tati comprou um casado de lã de alpaca bem legal. Isso no Brasil custaria uma fortuna. A lã é muito boa.

Embora um desafio físico nos primeiros dias, já no primeiro dia simpatizei demais com Cusco. É super agradável caminhar pela cidade. Como pode ser visto nas fotos, as construções são bem antigas e a cidade vive muito esse clima. Eu poderia citar Gramado e Paraty como cidades com um ar semelhante. O trânsito não chega a ser o caos total que é em Lima, mas o povo é o mesmo, e consequentemente, muito chegado numa buzina.

Como no primeiro dia não podíamos fazer muito esforço, ficamos caminhando sem rumo, conhecendo algumas coisas na volta e tomando fotos. Paramos numa praça para tomar café, e lá vinha outra bandinha de rua e uma festinha popular (foto ao lado). Pelo jeito, chegamos num dia animado na cidade.

Veja também: galeria de fotos de Cusco.

To be continued…