A correria andou grande nas últimas semanas e não tenho tido tempo para escrever. Mas vamos lá. Quanto mais o tempo passa, mais a gente esquece, e os relatos acabam não ficando tão fiéis.
Na sequência do post anterior, o motorista de táxi chegou no hotel para nos pegar às 5h20 da madrugada. Difícil acordar a essa hora com tanto frio. A temperatura nessa hora do dia está normalmente ao redor de zero graus. Nosso trem partindo de Ollantaytambo era às 8h00, então tínhamos 3 horas para percorrer o trajeto entre Cusco e Ollantaytambo. Bastante razoável.
Esse mesmo caminho pode ser feito também por via férrea, mas não é recomendável. Como falei antes, Cusco se encontra numa altitude média de 3400 metros. Já Ollantaytambo está situado a 2800 metros, pois está no Vale Sagrado dos Incas. A descida é extremamente íngreme, pois a média de altitude ao redor do vale é de 3800-4500 metros, e o vale é incrivelmente estreito. Literalmente uma fenda no meio da cadeia das imensas montanhas andinas. Em função disso, a viagem de trem é muito demorada, pois o trem precisa andar muito devagar e fazendo curvas com muito mais raio que um carro. Além disso, é quase impossível conseguir passagem de trem nesse trecho na alta temporada, pois são poucas as frequências diárias.
Partimos do hotel algo como 5h35 em direção à Urubamba (-13° 18′ 39.90″, -72° 6′ 54.77″), que é a cidadela que dá nome ao famoso Rio Urubamba, que percorre todo o vale. A estrada que vem de Cusco desce o vale chegando em Urubamba, que fica à noroeste de Cusco, 27km em linha reta, embora a distância percorrida seja o dobro disso ou mais, por causa da estrada sinuosa. De Urubamba para Ollantaytambo o caminho é plano, todo a 2800 metros, em um trecho de 20km mais ou menos.
Durante a viagem, ainda antes da descida para o vale, podemos ver a magnificência dos picos andinos, especialmente o Monte Salkantay (foto ao lado), com sua incrível altitude de 6271 metros, ainda que ele seja apenas o décimo quinto pico mais alto no Peru. Veja outras fotos desse caminho.
Chegamos em Ollantaytambo (-13° 15′ 47.30″, -72° 16′ 10.49″) às 7h00. Ollantaytambo é o último ponto da estrada no vale, pois daí em diante, até Machu Picchu, a colina é muito estreita e não há condições para se construir uma estrada. Há apenas a linha férrea que vai sempre margeando o Rio Urubamba. O mesmo taxista, e também guia turístico, Jonathan, iria nos buscar no próximo dia para fazermos o Vale Sagrado dos Incas. Combinamos com ele certinho o horário e ele se foi de volta a Cusco.
Como tínhamos ainda algum tempo e estávamos com fome, pois saímos do hotel antes do café da manhã, tomamos um desalluno num barzinho próximo à estação de trens. Logo de cara já deu pra perceber que o povo de Ollantaytambo é muito amigável e extremamente receptivo. É de se esperar de fato, pois para qualquer lado que se olhe, é uma quantidade incrível de turistas.
Nosso trem partiu às 7h50 (10 minutos adiantado) em direção à Machu Picchu Pueblo (13° 9’18.53″S 72°31’27.05″W), antes mais conhecida como Aguas Calientes. É fácil perceber o porquê de não haver uma estrada ali. A coisa realmente é muito fechada. Em vários trechos eu perdia a sincronia do GPS, pois o aparelho não conseguia receber o sinal de três satélites pelo menos, uma vez que era difícil ver uma boa porção do céu. A viagem de uns 45km tarda em torno de 1h30min.
Desembarcamos em Machu Picchu Pueblo às 9h15 e saímos caminhando para achar nosso guia, que supostamente estaria nos esperando na estação de trens. Esperamos algum tempo e nada, então resolvi ligar pro camarada. Celular desligado, puta que pariu. Bom, resolvemos achar o hotel e depois tentar contato com o guia por telefone novamente.
Machu Picchu Pueblo é um pequeno povoado situado a 2100 metros de altitude. A cidadela fica no pé de Machu Picchu. Como não há infra-estrutura em Machu Picchu, todo mundo se hospeda, se alimenta, etc, em Machu Picchu Pueblo. Para onde se olha, é só restaurantes, hotéis, pousadas, etc, tudo em função dos milhares de turistas que chegam na cidade todos os dias. Para se ter uma ideia, a média é de 3 a 4 mil visitante todos os dias, de todos os cantos do planeta.
Como são tantos hotéis e tudo com nomes semelhantes (geralmente algum nome Inca), entramos no hotel que julgamos ser o nosso e perdemos um tempão ali pois não achavam a nossa reserva. Claro, estávamos no hotel errado! Quando a Tatiana achou o voucher, a atendente nos deu a má notícia. Enfim, caminhamos mais alguns poucos metros e chegamos no hotel que de fato era o nosso. Como chegamos cedo demais, não havia quarto vago. A diária oficialmente começaria apenas ao meio-dia. A recepcionista pediu logo para o pessoal da limpeza agilizar a entrega de um quarto para que pudéssemos pelo menos largar as nossas tralhas e subir pra Machu Picchu. Em 20 minutos, estávamos no quarto, finalmente.
Respirar a 2100 metros nunca foi tão maravilhoso, comparado com os 3400 metros que estávamos em Cusco. Dava muito gosto de encher o pulmão de ar e sentir um pouco mais de oxigênio entrando em cada tragada.
Após descansar um pouco, tentamos contato com o guia novamente. Ele nos atendeu e disse que esteve nos esperando na estação quando o trem chegou. Não quis entrar no mérito e perguntei onde podíamos achá-lo. Combinamos de nos encontrar na estação dos ônibus que sobem para Machu Picchu dentro de 15-20 minutos. Assim o fizemos. 10h20 chegamos na estação de ônibus e encontramos o guia, Johnny, figura muito gente fina, que nos guiou por toda a visita à cidade sagrada.
Machu Picchu está situado a 2450 metros de altitude, quase 400 metros acima de Machu Picchu Pueblo. Esse trajeto só pode ser feito por um ônibus especial que parte a cada poucos minutos. A subida é um zigue-zague total, e quanto mais subíamos, mais magnífica ficava a vista do vale sagrado (veja foto ao lado). A única alternativa ao ônibus, que custa US$ 14,00 ida-e-volta (assalto!), é subir a pé, o que leva em torno de 1h30min e um esforço físico enorme, pois é uma subida muito íngreme.
Poucos antes das 11h00 estávamos no portal de entrada. Ali deixamos os pertences que não íamos utilizar, como casacos, etc. Por via das dúvidas, eu subi com um casaco, pois as mudanças de temperatura em altitude são muito bruscas. Como estava um sol animal, deixamos as roupas quentes no maleiro. Na sequência, organizamos o nosso grupo com o mesmo guia, que era em torno de 12 pessoas, todos latinos. Só nós dois éramos brasileiros. Havia colombianos, peruanos e costa-riquenhos também no grupo.
Passamos o portal de entrada e seguimos pelo trajeto recomendado, que começa por uma vista geral de Machu Picchu a partir de um ponto alto da cidade. Esse foi o momento que mais senti falta da minha lente grande angular 28mm, que esqueci em casa em função da correria. A lente que eu estava usando na foto ao lado era 45mm, o suficiente para não caber a cidade toda no mesmo quadro. Triste! 🙁
Ficamos um tempo parado aí admirando a paisagem. Muitas pessoas me disseram, assim como li muito na Internet, que ao se chegar em Machu Picchu, especialmente nesse ponto onde fiz a foto ao lado, se sente uma energia inexplicável. Talvez seja isso que leve tanta gente a Machu Picchu. O fato é que eu não senti nada disso, o que não me estranhou, claro, pois sou bastante cético. Mesmo não sentindo a tal energia dos deuses, fiquei maravilhado com o que estava vendo. A construção da cidade é majestosa. Logo surge a primeira pergunta: como aqueles doidos construíram isso aqui em cima, carregando essas pedras gigantes? Certamente deviam ter algum propósito muito forte e divino, porque deve ter dado um trabalho e tanto.
Para mim, nada que o homem possa ter construído chega aos pés do que a mãe natureza construiu. Na verdade, eu estava muito mais encantado com a beleza natural daquele monte de montanhas desenhando um cenário estonteante, do que com a cidade em si. Eu sempre fui louco por montanhas e nunca tinha estado tão perto de algo tão impressionante. A altura dos picos é impressionante. Só por isso, a viagem toda já vale a pena. Isso sim é coisa de Deus!
As oportunidades fotográficas em Machu Picchu são incontáveis. Decidi não metralhar muito para não sofrer demais depois tratando tudo. Fui fotografando numa linha mais seleta e apagando algumas coisas na própria câmera, já fazendo uma pré-seleção. O resultado final está na galeria de fotos de Machu Picchu e me pareceu bem bacana até.
No próximo post, vou falar um pouco mais na cidade e do passeio por ela, e emendo na sequência o Vale Sagrado dos Incas. Já adiantando, esse último foi uma grande e agradável surpresa.
Abraços.