Beijing 1

Beijing, ou Pequim como se diz normalmente pelo Brasil, nos surpreendeu. Vimos todo aquele progresso em Shenzhen e imaginávamos que aquilo era apenas devido a ser uma cidade nova. Comentávamos entre nós que chegando em Beijing que iríamos de fato conhecer a China comunista / socialista, através de uma típica cidade de terceiro mundo, com sérias deficiências de infra-estrutura, muita pobreza aparente, desorganização, congestionamentos imensos, etc. Estávamos absolutamente enganados. Como comentei no post anterior, o aeroporto é colossal, e isso já nos dava uma ideia que não estávamos em qualquer cidade.

Chegamos em Beijing no início da noite e já estava bem frio, pois mesmo na primavera, qualquer cidade 40 graus longe do equador normalmente é fria, mesmo estando Beijing ao nível do mar. Hong Kong e Shenzhen ficam próximas ao trópico de câncer, então é outro clima, muito mais agradável. Pela primeira vez na viagem, fui obrigado a recorrer a um agasalho.

Logo no desembarque, nossa guia, que se chamava Meg, nos esperava. De primeira já deu para notar que ela era bem hiperativa, falante e muito boa gente. Não demorou para os brasileiros a apelidarem de iPod. Ela nos organizou em duas vans e nos dirigimos ao hotel, no centrão de Beijing, 32 km à sudoeste do aeroporto. Eu fui na van onde estava a guia, e ela já nos deu uma aula de Beijing, onde fica o que na cidade, falou sobre alguns bairros, origens, etc. A cidade é tão antiga que ninguém sabe ao certo a sua idade. De acordo com a guia, a cidade tem 3000 anos e é a capital do país há mais de 600 anos continuamente, pois já tinha sido capital antes, deixou de ser, voltou a ser e assim por diante.

A guia comentou que iríamos pegar um congestionamento no caminho para o centro, pois era a hora do rush. Beijing tem 22 milhões de habitantes (oficialmente), ligeiramente maior que São Paulo, com 19 milhões (toda a metrópole). Logo fizemos a comparação e já vimos que iríamos ficar horas parados no congestionamento para percorrer 32 km. Resultou que nossa velocidade nunca baixava de 40 km/h nos piores trechos, e eles lá estavam achando horrível. Eu imaginei que o congestionamento do qual ela falava tinha se dissipado milagrosamente, mas não, ela confirmou que aquela “lentidão” era devido à hora do rush mesmo, que todos os dias era assim, muito complicado…

Aí que começamos a perceber como as coisas são por lá. A infra-estrutura viária da cidade é impressionante. Todas as vias que andamos tinham pelo menos 3-4 pistas para cada lado, sempre com pavimento impecável. Muitas passagens de nível. Raramente se vê um semáforo entre duas grandes avenidas. É bem comum grandes cidades, especialmente em países de primeiro mundo, possuírem um anel viário que circula a cidade, para aliviar o trânsito na parte interna da cidade. Beijing talvez seja o melhor exemplo mundial disso, pois possui cinco anéis viários circulando toda a cidade. São Paulo está há mais de uma década em passo de tartaruga tentando construir seu rodoanel, que deveria se chamar rodo-meia-lua, pois está muito longe de dar a volta ainda, e o governo admite que não existe nem previsão para isso acontecer, se é que vai um dia.

E isso foi o que vimos por cima. Por baixo está o mais impressionante ainda. Beijing não tinha metrô até 1971. Em 2000 eram apenas duas linhas. Em 2001 a cidade foi confirmada para receber as olimpíadas de 2008. O resultado hoje: 14 linhas e 336 km de extensão. Em 2015 serão 19 linhas entregues, totalizando 561 km no sistema, se tornando o maior sistema de metrô do mundo. Metrô é algo fundamental para uma cidade grande se mexer, e nesse aspecto os chineses estão no caminho. Ninguém mais do que eles sabe o que é ter MUITA gente precisando ir e vir todos os dias. Os maiores metrôs pelo mundo:

  • Shanghai, 425 km, 237 estações
  • Londres, 402 km, 270 estações
  • New York City, 337 km, 423 estações
  • Beijing, 336 km, 172 estações
  • São Paulo, 71 km, 61 estações
  • Rio de Janeiro, 47 km, 35 estações

Quase igual:

Sem comentários…

O mundo todo sabe, e eu nem preciso dizer aqui, que a China tem sérios, e muito sérios, problemas políticos por resolver, mas uma coisa que se nota claramente no país é que, independente de todo autoritarismo que existe, o país está se desenvolvendo numa velocidade furiosa, e em um padrão de qualidade de botar inveja em muito país super-desenvolvido. Normalmente o que se espera de qualquer regime autoritário é um país estagnado, caindo no abismo. Se você acha que a China é mais um desses países, vá lá e veja com seus próprios olhos.

A seguir, minha visita à Grande Muralha, Cidade Proibida, o famoso pato laqueado de Beijing, Praça da Paz Celestial, Parque Olímpico, etc.

Como gosto de escrever bastante, vou escrevendo “a prestação” para não ficar uma leitura muito cansativa.