2012 está sendo um ano de grandes mudanças na nossa pequena família. Estamos com um novo membro a caminho, que deve desembarcar nas próximas semanas, e se chamará Daniel. Preparar a casa e a cabeça para a chegada de um bebê é algo bastante complexo, mas já estamos com quase tudo pronto. Agora é só administrar a ansiedade até a sua tão esperada chegada.
Não bastasse o tamanho desse evento, poucas semanas depois da chegada do Daniel, partiremos de mudança para os Estados Unidos, mais precisamente para a região do Vale do Silício, uns 50 km ao sul de San Francisco, na Califórnia. Os cachorros vão junto, claro.
Há muitos anos eu venho adiando o desejo de ter a experiência de viver em outro país, trabalhar no meio de outras culturas, me envolver em grandes projetos, etc. As razões de eu sempre ter adiado isso são diversas, como falta de experiência técnica e pessoal, conhecimento insuficiente de inglês, carreira e negócios indo bem no Brasil, comodismo, entre outras. Mas eu nunca deixei isso de lado. Minha sede interminável por conhecimento nunca me deixou parar de estudar, e provavelmente nunca vai me fazer parar. Meu tremendo interesse por outros idiomas me fez estudar inglês e espanhol com força e vontade. Isso tudo, pouco a pouco, foi me qualificando.
Na verdade, eu nunca estudei para ter currículo, ou título, ou qualquer coisa documentada. Eu estudo porque eu gosto. Simples. E sinceramente, nunca imaginei que eu estaria no nível de poder trabalhar numa grande empresa do Vale do Silício. Até que uns amigos me convenceram que eu já tinha experiência mais do que suficiente para tentar vaga em grandes nomes. Movido pela curiosidade, fiz um currículo (sim, eu não tinha nenhum) declarando minhas principais experiências e mandei para algumas empresas que eu acho interessante. Dei na trave em algumas e fui bem em outras. Dois meses mais tarde, depois de passar por nove entrevistas de chorar, ter meu cérebro testado e revirado do avesso, eu estava aceito e com uma boa oferta nas mãos. Não tinha mais volta. Aceitei a oferta e comecei o imenso trâmite que é uma mudança desse porte.
As pessoas mais próximas sabem onde eu vou trabalhar. Mais adiante, eu vou postar sobre a empresa, como veio a oportunidade, como foi o processo de seleção, etc. Também vou postar, numa outra oportunidade, sobre o que é a logística e burocracia de se mudar para outro país.
Por que sair do Brasil?
Embora o Brasil tenha boas oportunidades (para os padrões locais), elas estão praticamente todas localizadas em regiões onde eu não gosto de viver. Cidades muito densas, crescendo verticalmente (muitos prédios) e com um problema crônico de violência urbana. As boas cidades de se viver têm economia tão pacata a ponto de você ser obrigado a ir para um grande centro urbano.
E o Brasil está se tornando um país caro de se viver, infelizmente. Tudo aqui custa o dobro, se não o triplo, do preço do resto do mundo. Moradia, que sempre foi algo razoável, está se tornando cada vez mais insanamente caro. Isso é reflexo de um país que está se desenvolvendo sem a devida infraestrutura por trás.
Por outro lado, tem muita coisa que eu gosto aqui e vai me deixar saudades, certamente. O povo amigável, hospitaleiro, boa comida, cultura, etc. Sem contar o óbvio, claro, como família, bons amigos, etc.
Por que EUA e não outro país qualquer?
Primeiro porque as melhores oportunidades estão lá. Bem ou mal, na área de computação e Internet, praticamente tudo nasceu e nasce na região do Vale do Silício. Se é lá que as coisas acontecem, é lá que eu quero estar. 🙂
Tem muita coisa (uma extensa lista, na verdade) que me incomoda nos EUA, e tem também muita coisa que eu gosto. Para trabalhar, é um país extremamente produtivo (bem diferente do Brasil), e isso é muito bacana, porque você vê as coisas acontecerem. Ninguém perde tempo reclamando dos outros e/ou culpando o governo por todos os males da vida.
Já estive umas 10 vezes nos EUA, conheço muito bem o país de costa a costa, tenho vários amigos em vários estados, conheço bem a cultura e os costumes, etc… Isso vai ajudar muito na nossa adaptação lá.
Eu não gosto de fazer comparações entre países, até porque não tenho experiência de ter vivido lá para fazer comparações justas. Talvez daqui a alguns anos eu possa falar melhor sobre isso.
Uma restrição que eu tinha quanto a outro país era o idioma. Meu nível de inglês é bastante profissional, modéstia à parte, e levei anos e mais anos para chegar onde eu cheguei, logo eu não quero ir para um lugar onde eu não consiga comprar um pão na padaria, ou conversar com um mecânico na oficina. É certo que com inglês você se vira bem no mundo inteiro, mas isso é como turista. No dia a dia, morando no local, a coisa é bem diferente. Eu já estive na China e não passei fome, pois o inglês resolveu tudo o que eu precisei, mas morar lá seria outra estória, totalmente.
Outro ponto que pesou muito na minha decisão é a educação dos meus filhos (queremos ter outro em breve). Luana e eu temos uma grande consciência sobre alta educação e queremos dar a melhor educação que tivermos condições de arcar. Infelizmente o Brasil não leva educação a sério, deixando a educação privada, que é extremamente cara, como a única alternativa para famílias que se importam o mínimo com isso. A educação pública nos EUA, principalmente na Califórnia, é muito boa (são poucas as escolas privadas, porque não precisa mesmo). Mas o que nos interessa mesmo é a educação superior. Morar perto das universidades mais renomadas do mundo, como Stanford, Berkeley, University of California, não tem preço. Todas elas, mesmo algumas sendo públicas, são bastante caras, mas isso não será problema para nós, pois os filhos vão nascer com uma conta poupança dedicada a isso.
Um dos meus maiores sonhos, sendo pai, vai ser ver meus filhos atingirem níveis de educação e profissionalismo que eu não tive condições de atingir. Se eles chegarem lá, e vamos fazer o possível para que cheguem, vamos ter a sensação de missão cumprida.
É sem volta?
Nunca se diz nunca na vida. Tudo vai depender das circunstâncias, naturalmente. Não é simples imigrar permanentemente em outro país, pois a burocracia é muito grande. Além disso, como eu não sou milionário e preciso trabalhar para me sustentar, serão as oportunidades de trabalho que vão definir onde eu estarei vivendo. Tudo na vida é uma aposta. Hoje estamos apostando que teremos uma vida digna por lá, e se as circunstâncias não mudarem, pretendemos continuar vivendo lá indefinidamente.
E por aqui?
Continuo como acionista da Propus, empresa que fui co-fundador em 2003. Estou apenas me afastando totalmente das operações pelos próximos anos.
Hoje tenho muita tranquilidade de sair das operações, pois conseguimos formar um time brilhante, que certamente vai dar continuidade no meu trabalho com maestria. Tenho muito orgulho de todos os meus colegas, e não saberia descrever o quanto foi bom trabalhar e crescer com eles ao longo desses anos.
Estamos agora aguardando a aprovação do visto de trabalho, que deve chegar nas próximas semanas. Como eu cumpri com folga todas as exigências mínimas do governo americano para esse tipo de visto, é muito improvável que eu seja rejeitado. Dedos cruzados por aqui. 🙂