Agora que o ano está finalmente para começar, uma vez que estamos deixando o carnaval pra trás, venho dar os meus votos de feliz 2009 a todos. Reconheço que deveria ter feito isso lá pelo final de dezembro, mas sabe como é, a falta de tempo é sempre um grande problema, então vamos usar o carnaval como pretexto pro atraso, se é que cola.
USA Trip
Na final do ano passado (2008) passei quase um mês pelos Estados Unidos. Como foi meio correria, acabei não postando nada de lá, como normalmente faço. O principal motivo, ou pretexto, para a viagem foi participar novamente da RSNA, que é um grande evento da indústria médica em Chicago, o mesmo que já havia participado em 2007, quando fui com meu colega Pablo.
O que me “forçou” a ir também foi que eu tinha umas 100 mil milhas prestes a vencer na Tam, então essa viagem foi praticamente de graça. Apenas arquei com as taxas de embarque, pois emissão de passagens com milhagem não cobre isso.
Como a Tam agora tem acordo de code share com a United Airlines, pude fazer os trechos direto com a United, fazendo só a perna Porto Alegre – São Paulo pela Tam. Nada contra a Tam, mas a United voa direto para Washington DC, onde seria a minha primeira parada. Já sofri muito aborrecimento com conexões, então nada melhor que evitá-las.
Voei para lá na semana do feriado de ação de graças, que acontece sempre na quarta quinta-feira do mês de novembro. Como o evento em Chicago começaria apenas na semana seguinte, reservei essa semana para passar uns dias na capital federal com a minha querida amiga Silvia. Fazia alguns anos que eu não a via.
É estranho passar ação de graças nos Estados Unidos, pois é o feriado mais importante do ano pra eles, onde as famílias se reúnem tudo. Assim como eu, Silvia não é norte-americana, embora viva lá, então a gente acaba se sentindo meio deslocado, pois não compartilhamos dessa cultura. A maior tradição desse feriado é comer peru na noite de quinta-feira, entre outras milhares de coisas. Tradicionalmente, cada membro de família traz algo para compor a mesa super-hiper-calórica. Apple pies, cherry pies, turkey, rice, ice cream, etc, etc…
Fomos convidados por um casal iraniano, onde trabalha uma amiga de Silvia, para a super janta, o que foi bastante agradável. Eles moram há muitos anos nos Estados Unidos, e deixaram o Irã por perseguição política, pois eram grandes pesquisadores universitários, ele cientista político. Fiquei feliz de eles terem compartilhado um pouco da história deles conosco e nos falado um pouco sobre aquele país, que vive hoje debaixo de um regime fundamentalista opressor. Naturalmente não posso comentar aqui detalhes, por uma questão ética.
A sexta-feira pós ação de graças é conhecida como black friday (sexta negra), onde milhares de lojas fazem grandes promoções. É tradição lá as pessoas passarem a noite em filas imensas aguardando a abertura das lojas às 5h00 da madrugada, para pegarem as melhores ofertas. Lembrando que as noites nessa época são sempre abaixo de zero graus célsius. Coisa de louco mesmo.
Nós não iríamos compartilhar dessa maluquice, então acordamos quase meio-dia e saímos de tarde para ver se ainda havia algo interessante. Fomos até Woodbridge, na Virgínia, onde há um grande outlet shopping, o Potomac Mills Mall. Silvia conseguiu várias coisinhas para presentear a família no natal. Eu, quase nem um pouco mão-de-vaca, comprei apenas um tênis na Nike Store, em promoção por US$ 30,00, bem barato mesmo. As lojas estavam uma bagunça, de tanta gente vasculhando o que comprar. Viva o consumismo! 🙂
No sábado fomos visitar a Air Space Museum, que fica anexo ao aeroporto internacional Washington Dulles (IAD). O museu ostenta a maior coleção histórica de aviões e tralhas espaciais do mundo. Além de aeronaves, há de tudo do mundo da aviação, como vários tipos de motores, hélices, asas, protótipos, etc. Na foto ao lado está o famoso Lockheed SR-71 Blackbird. Esse exemplar aí bateu o recorde de velocidade voando de Los Angeles até Washington DC em meros 64 minutos, a uma velocidade média de 3.524 km/h, ou a mach 3.2. Além dessa pérola, há no museu um Concorde da Air France, o ônibus espacial Enterprise, o módulo de comando da Apollo 11, entre várias outras relíquias. Eu como piloto novato, fiquei fascinado, obviamente. Preciso voltar lá e passar um dia inteiro com calma, pois é muito grande. Tem até um cinema IMax com vários vídeos de aviação.
No domingo cedo voei para Chicago. Em Washington estava frio, mas um frio bastante suportável e sem neve. Em Chicago, a coisa é bem diferente. Logo que saí do terminal do aeroporto O’Hare, já previ como seriam os próximos dias. Nevava bastante e a sensação térmica andava pelos -15c, de arrepiar. Peguei a van do hotel onde me hospedei e fiquei lá esperando pelo James e pela Kimberly, que vinham de Detroit de carro. Eles chegaram 2 ou 3 horas mais tarde, pois pegaram muita neve durante a viagem.
Botamos toda a conversa em dia e adivinha onde fomos jantar? Na Churrascaria Fogo de Chão, claro, bem ao estilo gaúcho de comer bem. Eles dois são americanos e são loucos por churrasco. Nada como um amigo brasileiro os visitando para servir de pretexto para ir a uma churrascaria.
Na segunda-feira passamos o dia todo na RSNA. Diferente de 2007, dessa vez fui ao evento apenas um dia. Dei uma circulada para ver se havia algo de novo e nada me chamou a atenção. Gostaria de ter ficado a semana toda para ir mais a fundo no que estava rolando, mas como a partir desse momento eu estava de carona, tínhamos que voltar a Detroit no dia seguinte.
O estacionamento do hotel era descoberto e nas duas noites em que ficamos lá nevou bastante. De manhã a rotina era retirar o amontoado de gelo que se prendia sobre o carro. Estimo que tenha sido umas 2 polegadas, o que eles julgam ser bem tranquilo. Pra mim, já era um absurdo. 🙂 Nas piores noites de inverno, é comum acumular 10-15 polegadas de neve. Caraca…
Tem muita gente que diz que carro com aquecimento nos bancos é frescura. Bom, depende da circunstância né. Eu estava achando isso muito útil!!!
Na terça-feira eu viajei com eles de volta pra Detroit. Antes de pegar a estrada, andamos pelo centro de Chicago para fazer umas comprinhas, claro. Let’s go shopping!! Pra variar, eu não comprei nada. Apenas ajudei a carregar sacolas. Almoçamos na Cheesecake Factory (hmmmmmmm), que fica no térreo do John Hancock Center. Caí na estupidez de pedir uma salada e um prato principal. Quando olhei o tamanho da salada, me assustei. Quando vi o prato, me assustei de novo. Era MUITA comida e MUITO boa. Saí de lá triste e com um peso tremendo na consciência, e outro no estômago. Começara ali uma reviravolta intestinal que me massacrou por vários dias.
Passei as próximas duas semanas congelando em Michigan na casa do James. Como sempre, fui maravilhosamente recebido por sua família, sempre muito hospitaleira. Me senti em casa. O dia-a-dia era basicamente sempre o mesmo, casa-trabalho, trabalho-casa. A primeira semana foi triste, com meu intestino insistindo em piorar. Procurei me manter a uma distância segura de um banheiro. Fui melhorar, após uma batelada de remédios e litros de gatorade só no sábado.
Fotinhos do clima (clique para ver outras):
No domingo, como estava um pouco melhor, saímos para passear. Pegamos a estrada I-75 ao norte e fomos até Mackinaw City, percorrendo o trajeto ao lado (clique para ampliar). Aí há a Mackinaw Bridge, uma ponte pênsil enorme, com 8 km de comprimento e 160 metros de altura. É aí onde os grandes lagos Michigan e Huron se encontram. É uma importante rota de navegação nos Estados Unidos. Do outro lado da ponte é a península alta de Michigan. Um pouquinho mais ao norte já fica a província de Ontario, no Canadá, também onde começa o Lago Superior. Fiz algumas fotos legais durante o caminho de ida. Dá pra ver bastante neve! Como se pode notar no mapa, há muito poucas cidades ao norte de Michigan. Embora o estado seja famoso por ser o berço da indústria automobilística, sediando as gigantes GM, Ford e Chrysler, mais ao norte é essencialmente um estado agrícola, grande plantador de milho. Obviamente, nesta época não se planta nada, pois está tudo congelado. É muito massa olhar aqueles campos imensos se perdendo no horizonte completamente branquinhos. Nem bactéria deve sobreviver ali por agora.
Na volta, saímos um pouco para oeste, costeando o Lago Michigan, e jantamos na cidadezinha de Harbor Springs, que fica na beira da Little Traverse Bay. É um destino famoso de veraneio dos endinheirados. É um local praticamente no meio do nada, muito bonito, natureza pra todo lado. Tem cada casa aí de cinema. Por estar junto ao lago, essa gente toda tem barco. Deve ser uma curtição e tanto no verão. Nesta época, tinha muito pouca gente, porque o frio é intenso. Mesmo assim, achamos algumas coisas abertas. Jantamos num restaurante pequeno, bem aconchegante, na beira da baía, até com atracadouro para clientes que chegam pela água. Daí, voltamos direto pra casa. Dá gosto viajar em estradas decentes. Mesmo no inverno, é muito tranquilo e seguro. Em Michigan, o limite de velocidade é de 70 mph (112,7 km/h), o que é bem razoável. Exceda o limite e logo logo surge uma sirene do além pra te multar.
Na terça-feira, dia 9 de dezembro, dei uma palestra no encontro de usuários do Michigan User Group, que é um grupo de usuários de Unix bem antigo. A palestra foi na biblioteca comunitária de Farmington Hills. O assunto abordado foi um case de sucesso da Propus sobre um cliente nosso de Manaus, no Amazonas. Os slides da palestra já estão disponíveis em PDF. Foi bem bacana. O pessoal parece ter gostado bastante, especialmente quando eu expliquei os desafios de uma grande cidade no meio da maior floresta tropical do mundo, especialmente no que tange telecomunicações. Ninguém acreditou que uma empresa com mais de 5000 computadores pode sobreviver hoje em dia com um link de Internet de meros 2 Mbps.
No início da palestra, você sempre fica um pouco apreensivo de não conseguir entregar o conteúdo com qualidade num idioma diferente do seu nativo. Perguntei depois para alguns amigos como tinha sido o “delivery” e recebi um ótimo feedback. Parece que deu pra entender tranquilamente. 🙂 No Peru, em agosto, tive que apresentar para 2500 pessoas em espanhol, e foi bem na paz até. Falar para 50 pessoas em inglês é bem mais fácil hehe.
No sábado voltei para Washington DC, onde fiquei mais um dia. Silvia e eu fomos jantar na Fogo de Chão, bem no centrão da capital, perto da Casa Branca. A última vez que Silvia tinha comido churrasco foi quando esteve no Brasil em 2005, então eu havia prometido isso a ela na minha passagem de retorno pela cidade como presente de natal. Chegamos lá sem reserva e estava lotado, pra variar. Tivemos que esperar quase 2 horas por uma mesa, mas valeu a pena. A comida estava excelente, atendimento de primeira, mas a conta, putz, essa doeu. Aqui está o recibo de pagamento. Com o dólar a R$ 2,50, isso dá mais de R$ 400,00. Mas, promessa é dívida e presente não tem preço. Como diz meu amigo James, it’s only money. No dia seguinte do pagamento da fatura do cartão a gente já esquece. 😀
Saímos caminhando por alí para baixar a comida. A famosa árvore de natal de Washington (National Christmas Tree) já havia sido montada em frente à Casa Branca, na praça Ellipse. Estava muito bonito e cheio de gente, embora a temperatura estivesse na casa dos -2c. A noite estava lindíssima, com uma bela lua cheia iluminando tudo. Eu fiquei p%$@#$% da cara pois esqueci a minha câmera no hotel, próximo ao aeroporto Dulles, uns 30 km dali. Perdi umas fotos noturnas memoráveis. Até tri-pé eu tinha no hotel. Que merda! 🙁 Restou apenas a foto ao lado, feita pelo celular. Nada perto do que poderia ter sido feito com uma reflex.
Domingo voei de volta de Washington para São Paulo, 9 horinhas de voo. Em seguida, última perna até Porto Forno Alegre, que já anunciava o verão escaldante que vinha pela frente. Essa era a última semana útil do ano, então bastante serviço me esperava. Na semana seguinte já viajaria para Rio Grande para passar as festas com a família.
No geral, foi uma viagem bacana. Embora estivesse trabalhando também, deu para descansar durante alguns dias. E sempre é bom rever amigos, especialmente quando estão longe.