Em primeiro lugar, peço desculpas pela demora em postar este relato. Como informei no post anterior, eu voltei já “a baixo de mau tempo”, com muitas coisas para fazer.
Minha segunda estada em Washington seria de apenas dois dias, pois meu vôo para o Brasil estava marcado para o dia 28 de agosto à noite, no domingo. Como de última hora eu fiquei sabendo que eu poderia ter companhia até quarta-feira, decidi remarcar meu vôo para o dia 30 então, o que me daria mais dois dias inteiros livres. Novo destino então: New York City. New York fica a 360 km de Washington, então pudemos fazer a viagem de ônibus a um custo bem baixo.
New York é sem dúvida a cidade mais famosa do mundo e o destino preferido de muitos viajantes. Assim como muita gente, eu sempre tive vontade de conhecer essa cidade. Em 2003 eu estive em New York por algumas horas, no Aeroporto John Kennedy (JFK), de onde partira meu vôo para São Paulo.
Maior cidade dos Estados Unidos, com quase 19 milhões de habitantes em toda região metropolitana, compara New York a São Paulo no Brasil, com a diferença que a renda per capita na cidade americana é de longe maior que a nossa. É a quarta maior região metropolitana do mundo, atrás de Tóquio (35 milhões), Seul (24 milhões) e Cidade do México (20 milhões). Logo em seguida está São Paulo com quase a mesma população de New York.
A opção mais barata para ir de ônibus entre as duas cidades (ver trajeto) era usar os ônibus de empresas alternativas que interligam os Chinatowns (bairro chinês) de várias cidades, que é comum nos Estados Unidos. A viagem ida-e-volta nesse caso custou US$ 35,00 por cabeça. Uma viagem pela linha tradicional operada pela Greyhound não sairia por menos de US$ 70,00.
Saímos 9h45 da manhã do Chinatown de Washington. Passamos durante a viagem por Baltimore, que é a maior cidade de Maryland. Em seguida, cruzamos o pequeno estado de Delaware e entramos no estado de New Jersey. A passagem por Delaware é muito bonita, porque junto com Maryland, o estado forma uma espécie de península no Oceano Atlântico. As pontes que cruzam a península são enormes e a paisagem é fascinante. É fácil de ver no mapa do trajeto o trecho que estou falando.
Por volta das 14h entramos na ilha de Manhattan, principal borough (bairro, ou distrito) de New York. Acessamos a ilha pela parte sul, através do Holland Tunnel, que liga New Jersey City, do outro lado do Rio Hudson. Minutos depois chegamos ao Chinatown de Manhattan, que concentra uma grande população chinesa, naturalmente. Desculpem-me os chineses, mas que povo sujo! Chinês é muito trabalhador, mas é aquele tipo de trabalho pequeno, todo mundo fazendo “bico”. O Chinatown mais parece um grande camelódromo, com todo mundo querendo te vender qualquer coisa. Higiene e aparência é bobagem.
Nosso endereço de chegada foi o 13 Allen St, de onde já se via a Manhattan Bridge, que liga a ilha ao Brooklin. Primeira coisa que se faz quando se chega em uma cidade pela primeira vez é procurar por um mapa. Ingenuamente, eu achei que iríamos levar apenas poucos minutos até encontrarmos um. Pelo menos no Chinatown, as pessoas nos olhavam até estranhamente quando pedíamos por um mapa. Caminhamos para um lado e para outro e nada de mapa, muito menos mapa do metrô. Na verdade fomos estúpidos. Seria muito mais fácil ter perguntado logo qual era a estação de metrô mais próxima.
Conseguimos um mapa do metrô todo destruído numa banca de revistas, que nos foi cedido gratuitamente pelo jornaleiro. Alguns metros adiante, achamos uma estação, finalmente. Ao abrir o mapa, o primeiro susto. Eu já sabia que o metrô de New York era complexo, mas não TANTO! A Silvia já tinha estado em New York algumas vezes, o que sempre ajuda. A quantidade de linhas e interconexões é impressionante. O metrô de Los Angeles, que eu já conhecia, é brincadeira de criança perto desse. Para você ter uma idéia do que estou falando, dê uma olhada no mapa do sistema.
Mesmo complexo, nada que em cinco minutos você não entenda toda a lógica. Por sorte, pura sorte, estávamos numa estação que tinha um trem direto para a estação onde queríamos chegar, então não seria necessário nenhuma conexão, o que atrasaria mais ainda a nossa chegada ao hotel. Eu estava me mijando. 🙂
15 minutos depois, descemos na estação do famoso Rockefeller Center, bem próximo ao nosso hotel, que era o Mayfair New York Hotel, na 242 West 49th Street, muito próximo ao Times Square. Hotel bem simplesinho, que é o que podíamos pagar em Manhattan, onde tudo é muito mais caro que em qualquer outro lugar do país. Um quarto vagabundo que mal cabia a cama dentro custou US$ 129,00 por uma noite. Na verdade, até se consegue hotel mais barato, mas não com essa localização tão privilegiada.
Em seguida que fizemos check in no hotel, fomos sair para caminhar em direção ao Times Square, onde almoçamos. Times Square é a maior poluição visual imaginável. Há imensos painéis eletrônicos pra todo lado, a maioria com muita propaganda. Alguns são até informativos, como índices das bolsas de valores, últimas notícias, etc. Há várias lojas interessantes por todo lado. O trânsito é um inferno absoluto e quase não se caminha nas calçadas, de tanta gente. O mais interessante, que encanta a todos os visitantes dessa cidade, é a quantidade de gente diferente por metro quadrado. Eu duvido que exista outra cidade no mundo que aglomere tanta gente dos quatro cantos do mundo. Você vê árabe, judeu, oriental, africano, latino, escandinavo, etc, para qualquer lugar que se olhe.
A diversidade cultural é uma coisa que me atrai muito, e essa é a razão que vai me fazer voltar a New York muitas outras vezes, espero. Um monte de concreto pra todo lado e gigantes arranha-céus são coisas legais de se ver, mas não me chamam muito a atenção. Concreto por concreto, já basta São Paulo. Por beleza, aprecio muito mais em uma cidade belezas naturais. Por isso sou um super fã do Rio de Janeiro (tirando os aspectos ruins), que pra mim é sem nenhuma dúvida a cidade mais linda do mundo.
Na seqüência, fomos até o super famoso Empire State Building, agora maior edifício da cidade, depois da queda das torres gêmeas do World Trade Center. A primeira impressão ao olhar para o prédio é: “PQP, este troço é muito alto!”. Poucos dias antes eu tinha visto o Sears Tower em Chicago, que é ainda mais alto, embora não tão famoso. O mais interessante é imaginar como os caras construiram um prédio de 381 metros de altura, 102 andares, em 1931. Meus pais nem eram nascidos. 🙂
Fomos até o prédio para subir no observatório do 86o andar, de onde se tem uma vista excepcional da metrópole. Parece meio insano pagar US$ 16,00 por cabeça para subir no alto de um prédio, mas estar em New York e não subir no Empire State é como ir ao Rio de Janeiro e não visitar o Cristo Redentor. Além do mais, eu sou vidrado em vistas bonitas. É onde eu mais me divirto fotografando.
Como já era de se esperar, a quantidade de gente na fila acabaria desanimando um pouco o passeio. Quando chegamos no edifício, o sol já estava baixando, e pelo tempo que levaríamos na fila até chegar a nossa vez de subir, já estaria noite. A vista à noite deve ser sem dúvida esplêndida, mas eu queria fotografar, e sem tri-pé é praticamente impossível fazer boas fotos sem muita luz. Além disso, estava bem frio no térreo, então imagine o frio lá no alto com o vento que fazia. Ainda, estávamos bem cansados de ter acordado cedo e viajado. Então, como os tickets não tinham data para subir, deixamos para o próximo dia, onde combinamos de acordar e ir direto ao edifício.
Jantamos e fomos direto para o hotel, onde tomamos um belo banho seguido de uma boa noite de sono. O próximo dia seria corrido, pois tínhamos bem pouco tempo para fazer o que havíamos planejado.
O hotel, por sua simplicidade, não oferecia café da manhã. Tomamos café fora e fomos de volta ao Empire State. No caminho, já percebemos o mau tempo. Estava uma garoa muito chata e bem frio, o que certamente comprometeria a visibilidade no alto. Quando chegamos na porta do prédio, a placa já informava “visibility: zero miles“. Não adiantava subir naquela hora que não veríamos nada. Então decidimos pegar o metrô a ir ao World Trade Center, que depois da queda das torres se tornou um dos lugares mais visitados da cidade.
Os ataques terroristas de 11 de setembro foram sem dúvida um dos maiores fatos da história dos últimos tempos. Talvez nenhum outro assunto tenha sido tão noticiado no mundo inteiro nestes últimos cinco anos. Eu, particularmente, li muito sobre o caso, assisti vários documentários, vídeos, filmes, e analisei diversas fotos do acontecido nestes anos. Mas assim que subimos da estação do metrô, quando eu olhei para aquela imensa área aberta, a sensação é muito estranha. É muito difícil imaginar que há cinco anos havia dois arranha-céus gigantes exatamente onde eu estara olhando. Muito mais difícil ainda é se quer imaginar que há apenas 1813 dias, dois Boeings 767 foram espatifados de propósito exatamente onde eu estava, causando um pânico total na cidade que jamais vira algo parecido, e paralisando o mundo inteiro, que assistia atento às TVs o maior ataque terrorista da história mundial.
Mesmo após todos estes anos, o local ainda está uma bagunça. Na foto ao lado, dá pra perceber ao fundo parte da destruição das torres. Olhando através de uma foto de satélite, dá para ter uma boa noção do tamanho do estrago. A quantidade de máquinas que se vê pra todo lado é porque já estão no processo de construção da Freedom Tower, que será da mesma altura das torres, porém será apenas um prédio alto e alguns outros bem menores. O local também vai abrigar um grande memorial às 2979 pessoas que ali perderam suas vidas.
Uma coisa que me irrita bastante é o sensacionalismo que os Estados Unidos tratam essa tragédia. De fato, é uma grande tragédia pessoas inocentes pagarem com a vida por causa da estupidez de meia dúzia de seus próprios governantes. Por outro lado, se fossem construir grandes memoriais e dar a mesma atenção na imprensa para cada 2979 que morrem por causa da prepotência americana mundo afora, talvez não houvesse área suficiente no mundo. O marketing governamental funciona tão bem nesse país, que o povo ignorante antes de se perguntar por que razão algum grupo terrorista faria isso, automaticamente pensa que se trata de um bando de malucos aloprados que querem atacar a “liberdade” americana, a “nação exemplo” para o resto do mundo. Não que eu esteja defendendo os ataques, longe disso, mas tudo é uma questão de causa – conseqüência. Nada acontece por acaso.
Saímos do WTC já era quase meio-dia, então tínhamos que retornar rápido ao hotel para fazer o check out. Recolhemos nossa mochila, pagamos a conta e fomos almoçar no Times Square. Após, voltamos ao Empire State com a esperança de haver visibilidade agora. Que nada, a placa não havia mudado. Como os tickets não eram reimbolsáveis e estaríamos indo embora nas próximas horas, resolvemos subir mesmo assim.
Com visibilidade zero, naturalmente não havia fila, muito menos alguém que pudesse querer comprar nossos ingressos. Chegamos rápido ao elevador expresso que pára de 10 em 10 andares, onde fomos rapidamente até o 80o andar. Dali, fomos para um elevador local para subir os últimos 6 andares. Chegando ao observatório, demos de cara com o que já esperávamos. Uma parede cinza de nuvens nas janelas, como pode ser visto na foto ao lado, junto com a minha cara triste. 🙁
Não ficamos muito tempo aí em cima, porque não tinha muito o que fazer. Descemos e fomos caminhar pela famosa 5a Avenida, onde passamos pela frente da famosa Biblioteca Pública de New York, fundada no século 19. Não entramos pois não nos restava muito tempo. Seguimos caminhando até 59a rua, onde começa o Central Park. Nada muito emocionante visitar um parque em um dia de chuva, mas ainda assim queríamos passar por aí. Ao chegar na esquina do parque, achamos algo sem querer, uma Apple Store lindíssima, toda de vidro. Assim como em San Francisco e Chicago, gastamos um bom tempo nos divertindo com brinquedos incríveis da Apple.
Caminhamos um pouco na volta do parque e paramos num bar para tomar um café e comer algo. Logo em seguida, pegamos um metrô na estação mais próxima de volta ao Chinatown, de onde partiria nosso ônibus às 19h30 para Washington DC. Ao chegar aí, parecia que estávamos na China. Gente falando chinês pra todo lado, aquela sujeira tradicional, muita agitação, ônibus saindo pra vários lugares. Alta confusão.
Meia-noite chegamos no Chinatown de Washington, que fica há apenas uma quadra da estação do metrô que nos levaria para Bethesda. Chegamos tranqüilo na estação, quando ficamos sabendo que o último metrô daquele dia sairia em quatro minutos. Que susto! Um pouco mais, ficaríamos sem transporte e morreríamos num táxi, que custa uma boa nota.
No último dia em Washington não fiz nada de especial. Após acordar, arrumei minhas malas e saímos pra almoçar e fazer hora, até chegar o horário de ir para o aeroporto. O meu vôo sairia do aeroporto Dulles às 21h43. 19h30 chegamos no aeroporto, onde o check in foi bem rápido, muito diferente da confusão que foi em São Paulo, onde dei a infelicidade de viajar para o exterior no mesmo dia em que proibiram líquidos na bagagem de mão.
Me despedi de Silvia e fui direto para o concourse onde era o meu portão de embarque. Confirmei com os atendentes da United Airlines sobre a pontualidade do vôo, e me responderam afirmativo. Porém, começou a chegar próximo da hora da partida e nada de começar o embarque. Observei uma movimentação estranha no portão e logo percebi que algo estava errado. Logo em seguida uma atendente informou um equipamento de navegação da aeronave estava acusando anormalidade. Como é comum na aviação, um piloto não tem o direito de tomar a aeronave até que o chefe de manutenção a libere, e ele jamais faria isso com qualquer indício de anomalia, ainda mais em um vôo de 9 horas. Conforme informaram, caso conseguissem consertar o defeito, em 15 minutos estaríamos embarcando, ou senão a troca do equipamento levaria duas horas pelo menos.
Passaram-se os tais 15 minutos e nada. Até que a companhia resolveu nos trocar de aeronave, para outro 767-300 igual. Como a aeronave em que viajaríamos já estava abastecida, carregada com nossas bagagens e com toda a comida a bordo, tudo teria que ser transferido para a outra aeronave, o que foi feito em pouco mais de meia hora. 23h00 estávamos correndo na pista.
Como as pessoas já estavam um pouco irritadas com o atraso do vôo, o jantar foi servido imediatamente após o nivelamento do avião em FL330 (33.000 pés), 20 minutos após a decolagem. A janta estava bem boa. Comi massa com um pouco de salada. Logo na seqüência, assisti um filme (não lembro qual) e li um pouco.
Tive a sorte de não pegar ninguém do meu lado no assento da janela esquerda, então consegui mais espaço para relaxar. Até consegui dormir algumas horas, o que não é comum acontecer comigo. Quem sabe um dia eu tenha a disponibilidade financeira de poder viajar de classe executiva, bem deitadão… 🙂
Nosso plano de vôo na volta foi precisamente o inverso do plano de ida, onde entramos no Brasil aproando para Santarém, no Pará, e logo em seguida para Brasília, onde desviamos direto para o aeroporto internacional de São Paulo. Cruzamos a capital nacional nivelados a 35.000 pés, quase 11 km acima do nível médio do mar. Interessante ver Brasília láááááááá em baixo. Como eu conheço bem a capital, deu para reconhecer rapidinho tudo, mesmo que de bem lá do alto. Para quem nos olhava lá de baixo, nós éramos apenas um pontinho branco com um grande rastro de condensação atrás. Nesse momento foi servido o café da manhã.
9h00 em ponto tocamos suavemente a pista do aeroporto Cumbica, em Guarulhos, após exatas nove horas de vôo. Ao desembarcar e pegar minhas malas, vi que uma delas estava rasgada. Reclamei para a United, que me informou que só poderiam recolher a mala para conserto caso eu ficasse em São Paulo. Como eu estava indo para Porto Alegre, me deram um número de fax para eu passar um orçamento do conserto, que eles me reimbolsariam caso concordassem com o orçamento. Me deu vontade de mandá-los pra PQP.
Eu estava um pouco apreensivo pois estava trazendo mais coisas além da cota permitida de US$ 500,00 para não pagar imposto de importação. O excedente era muito pequeno, mas ainda assim a gente não fica tranqüilo quando está “fora da lei”. Me fiz de louco e fui para a fila “nada a declarar, seja o que Deus quiser”. Para a minha surpresa, havia apenas uma oficial da Receita pegando as fichas aduaneiras sem se quer olhar para elas. Fiquei com uma p* raiva, porque eu precisava trazer mais coisas e não trouxe com medo de dar problema. Como eu acredito na Lei de Murphy, se eu viesse cheio de muambas, teriam me trancado. 🙂
Com a quebradeira da Varig, o meu vôo de volta a Porto Alegre seria apenas às 21h30, 12 horas mais tarde, com ainda o grande risco de ser cancelado, claro. Assim como na ida, comprei um vôo de volta pela Gol e pontualmente 11h55 decolamos para Florianópolis e em seguida para Porto Alegre.
Já perdi as contas de quantas vezes aterrissei em Porto Alegre. Mas toda a vez que avisto a cidade pela janela na aproximação, tenho uma sensação bacana. Gosto dessa cidade. Gosto de estar de volta em casa, ainda mais quando estou vários dias fora. Desembarquei feliz, 20 dias após ter decolado nesse mesmo aeroporto.
Fico feliz de poder ter reportado toda esta viagem, e assim ter compartilhado com as outras pessoas alguns momentos da minha vida. Agradeço a todos que tiveram a paciência de ler meus enormes textos. Agradeço também aos comentários.
E, mais uma vez, peço desculpas pela demora em postar principalmente este último relato.
Grande abraço.