O que há apenas 30 anos era uma pacata vila de pescadores, hoje se tornou em uma grande cidade com 9 milhões de habitantes (número oficial), ocupando uma vaga entre as 10 cidades mais ricas e prósperas da China (PIB per capita). Tudo isso se deve a Shenzhen ser a primeira cidade a ser considerada uma zona econômica especial, algo similar ao Polo Industrial de Manaus, com fortes incentivos fiscais, maior liberdade para investimentos estrangeiros, entre outras regalias. Isso atraiu grandes empresas, especialmente da área de alta tecnologia, para a cidade, inclusive a Huawei Technologies, que nos trouxe a Shenzhen. O fato de a cidade ser vizinha de Hong Kong, que ostenta uma infra-estrutura portuária e financeira invejável a nível mundial, ajudou muito o seu crescimento. Shenzhen é considerada o Vale do Silício da China.
O nosso primeiro contato com a China continental foi ao entrar em Shenzhen, deixando Hong Kong. Imaginávamos ver uma cidade grande de um país em desenvolvimento, com fortes traços socialistas, etc. Mas não. O que se vê em Shenzhen é puro progresso. Belas avenidas interligando toda a cidade, muitos prédios comerciais e residenciais. A cidade tem apenas 30 anos e o sistema de metrô é maior que o de São Paulo (não precisa muito, também…), com 4 linhas em operação e várias outras em construção.
Nos hospedamos no hotel Grand Mercure Oriental Ginza, muito bem localizado, em frente a uma estação de metrô. Chegamos no hotel era umas 14h, mas o nosso relógio biológico marcava 3h da madrugada, então muito queríamos dormir. Tínhamos que nos aguentar acordados pelo menos até umas 22h, para forçar a adaptação ao fuso horário. Um dos colegas que estava no grupo já havia estado em Shenzhen antes e sabia como andar pela cidade de metrô, então resolvemos pegar o metrô e ir até Huaqiangbei, que é uma popular zona de comércio de eletrônicos na cidade.
Para quem gosta de eletrônicos, especialmente componentes eletrônicos, Huaqiangbei é o paraíso. Tem um shopping aí imenso com centenas de lojas de componentes. Obviamente, como em qualquer lugar na China, há muita coisa falsificada. Vou falar mais sobre isso no post de Beijing.
Resolvemos jantar por aí mesmo. Uma parte do pessoal queria comer junk food ocidental, mas a outra parte, da qual eu fazia parte, queria comer comida local, afinal estávamos na China e deveríamos aproveitar ao máximo a culinária local. Nós ganhamos. O problema é que ainda não tínhamos nenhum chinês no grupo, ninguém falava mandarim nem cantonês e não é de se esperar que alguém fale inglês decentemente em um restaurante pequeno. Arriscamos assim mesmo. Afinal, tudo faz parte da aventura.
Fomos num restaurante de sopas que parecia bem apetitoso. O problema foi escolher a comida no cardápio, pois o restaurante não tinha nenhuma versão do mesmo em outro idioma que não o local. A sorte é que boa parte do cardápio tinha fotos bem bonitas, e o principal: tinha um ícone de uma pimenta, numa escala de 1 a 3, ao lado dos pratos apimentados. Pimenta na China é coisa muito séria e eu não estava muito disposto a experimentar. Escolhi o prato abaixo pela foto e pelo fato de não ter nenhum ícone de pimenta. Acertei, pois estava maravilhoso.
O pessoal mais macho que resolveu experimentar as famosas pimentas chinesas quase teve um troço comendo. Eu provei um arroz que estava na escala 1 de pimenta e minha boca quase pegou fogo. 🙂
Na saída, fomos tomar um típico café americano no Starbucks. Confesso que sou muito viciado em Starbucks, e bastou ver um lá para me atirar. O café deu um gás extra para sobreviver acordado até chegar no hotel.
Chegamos no hotel pouco depois das 21h. Fui para o meu quarto e capotei imediatamente até às 6h30 do próximo dia, 4 de abril. Nesse dia começou de fato a nossa atividade oficial. Todos acordamos cedo para o café, pois às 8h30 as vans estariam nos esperando para nos levar até a sede mundial da Huawei, onde passamos o dia.
Chegamos na Huawei cedo, onde visitamos uma área de exposição com toda a linha de produtos, que é imensa, e fortemente orientada à comunicação de dados. Tivemos uma reunião de boas-vindas com parte da diretoria, visitamos o data center principal, que é fantástico. Outro lugar genial que visitamos foi o centro automatizado de logística da empresa. É um depósito imenso onde ficam todos os componentes comprados para a produção dos equipamentos. Todo a armazenamento de produtos é automatizado, sem nenhum contato humano. Se você precisar de qualquer componente, basta pesquisar no sistema, e se houver estoque, os robôs vão se encarregar de trazer o devido produto até o local de retirada.
Logo após fomos almoçar com parte do grupo local, onde tivemos de fato o primeiro contato com a tradicional culinária chinesa. O típico na China é comer em uma grande mesa redonda com um tampo giratório no centro (foto ao lado), onde ficam os pratos. Normalmente se pede vários pratos distintos e todo mundo come de tudo, o que eu acho sensacional, pois ninguém se dá mal por ter pedido algo errado. Ninguém enche o prato. O negócio é ir “picando” mesmo. Toda a comida estava simplesmente maravilhosa e muito saudável.
Voltamos à tarde para a Huawei, onde assistimos a algumas apresentações de produtos. À noite jantamos no mesmo estilo do almoço, mas a comida estava ainda melhor. Aproveitamos a janta para comemorar o aniversário do nosso colega Marcelo, da Huawei Symantec Brasil, com direito a parabéns em Mandarim e tudo. Veja as fotos dessa janta no meu Gallery.
Depois da janta, todos já meio adaptados ao fuso horário, fomos a um bar que um dos colegas já havia estado antes, o VBar, que é muito bacana. Não esperava ver tanta música pop/rock ocidental na China, mas a galera parece que gosta. Todo mundo cantando com a banda coisas como Lady Gaga, Black Eyed Peas, Bon Jovi, etc. Abaixo dá para ter uma ideia:
Depois falamos um pouco com o pessoal da banda. A banda se chama Develop e é das Filipinas. Tocam toda segunda-feira no VBar. A banda oficial da casa, que toca no resto dos dias, é escocesa. Conhecemos também o gerente geral da casa, que é um holandês muito gente boa.
Na terça-feira fomos visitar o centro de monitoramento do centro de exposições de Shenzhen, implementado com soluções Huawei. Bem interessante, com mais de 100 câmeras controladas de forma centralizada, todas elas com zoom óptico de 20x e movimento em 360 graus.
Depois de mais um almoço tradicional muito bom, fomos para o aeroporto internacional de Shenzhen (ZGSZ, SZX), de onde voamos até a capital federal Beijing. Como tudo em Shenzhen, o aeroporto é muito moderno e muito bem estruturado. Por enquanto apenas uma pista está em operação, mas uma segunda já está sendo construída e deve entrar em operação em 2012.
Voos entre Hong Kong e China são considerados voos internacionais, e por isso são normalmente bem mais caros que voos domésticos. Em função disso, muita gente voa de/para o aeroporto de Shenzhen, de onde pode-se ir facilmente para Hong Kong, inclusive de ferry boat, que é mais rápido que ir por estrada.
Voamos de China Southern para Beijing, em um Airbus A330-300 enorme. Decolamos 15h39 de Shenzhen e pousamos no Beijing Capital International Airport (ZBAA, PEK) 2h46min mais tarde.
Pense em um aeroporto grande. Sim, este é MUITO grande. O Beijing Capital International Airport é o segundo aeroporto mais movimentado do mundo. Possui três enormes pistas, operando todas simultaneamente. Possui 3 excelentes terminais, sendo o terminal 3 o segundo maior edifício do mundo em área, se estendendo por quase 3 km entre as pistas 18L/36R e a 01/19. Como todo aeroporto decente no universo, está interligado com a cidade através de uma linha de trem, que é ligada ao excelente sistema de metrô de Beijing, com seus 336 km de extensão e 14 linhas. Além disso, há uma estrada expressa (Airport Expressway) ligando o sistema de rodo-anéis da cidade.
Mais sobre Beijing no próximo post.
Nota mental: me assusta de ver que cada grande cidade que eu visito no mundo possui uma infra-estrutura brutalmente maior que qualquer cidade brasileira. 🙁