Portland, a cidade das rosas

Eu não esperava muito de Portland, mas confesso que fiquei impressionado. Meu propósito para ir até aí foi participar da Oscon 2007, conferência anual sediada pela O’Reilly, uma das melhores editoras de livros técnicos que se conhece. No próximo post, falarei mais sobre a conferência em si.

Portland é a maior cidade do estado de Oregon, na costa pacífica americana. Fica próximo a Seattle e ao Canadá. A cidade tem uma natureza muito bonita, banhada por dois rios, o Willamette e o Columbia. A cidade é rodeada por várias montanhas e alguns vulcões, como o famoso Monte Santa Helena. A área metropolitana tem algo em torno de 2,1 milhões de habitantes, mas a cidade não tem um ar de metrópole, com congestionamentos, gente pra todo lado…

O apelido “cidade das rosas” foi dado há mais de um século, porque o clima da região é perfeito para essas flores. A cidade possui inúmeros parques de rosas por todo lado.

Provavelmente, o que faz essa cidade interessante é o fato de ela ser uma das cidades mais notadas no mundo por um excelente planejamento urbano e pesado investimento em transporte público. Toda a cidade foi planejada meticulosamente há muitos anos. Para se ter uma idéia, toda a região está completamente planejada até 2040, onde se espera mais que dobrar a população. Os investimentos em infra-estrutura são feitos se pensando 30 anos à frente, não quando a coisa já virou um desastre, como no Brasil.

MAX MAX MAX

O sistema de transporte é incrível, o que nem é comum em muitas cidades nos Estados Unidos, onde praticamente toda a população tem carro. Transporte público não é algo feito apenas para resolver o problema de quem não tem carro. É mais para resolver o problema de circulação de uma cidade, permitindo que as pessoas possam ficar mais longe umas das outras, reduzindo a densidade populacional drasticamente. Sem falar, naturalmente, no impacto ambiental de uma cidade sem transporte público, com milhões de carros circulando sem necessidade.

O sistema de trânsito de Portland é operado pelo TriMet, que possui várias linhas de ônibus por toda a região metropolitana, e na área mais populada possui linhas de trem, que eles chamam de light rail, pois são trens leves que operam nas ruas junto ao trânsito. Tudo é muito bem sincronizado. Os trens são bem rápidos, e os horários que eles passam em cada estação são planejados perfeitamente. Naturalmente, como toda cidade decente, o transporte chega no aeroporto principal. A linha vermelha do trem vai do aeroporto até o centro da cidade em apenas 20 minutos, por US$ 2,00.

O mais interessante do sistema é que existe uma área chamada de free zone, que é o centro da cidade praticamente. Se você pegar um trem nessa área e descer na mesma área, não é necessário o pagamento. Então dá para andar por todo a área central de graça. Outra coisa que me chama muito a atenção é que não há ninguém para cobrar. Você compra o ticket nas estações e embarca nos ônibus ou trens, e ninguém está ali para lhe cobrar o ticket. E todo mundo compra. Eu já havia visto isso em San Francisco e Los Angeles há anos, mas ainda assim, eu fico imaginando como algo desse jeito poderia funcionar no Brasil.

Outra coisa óbvia num sistema de transporte público é que você pode trocar de ônibus e/ ou trens usando o mesmo ticket. Isso é uma coisa que me irritava muito em Porto Alegre quando eu precisava pegar dois ônibus da faculdade até em casa e pegar pelos dois.

Uma das coisas chatas dessa região dos Estados Unidos e Canadá é a quantidade de chuva. Dizem que chove mais de 250 dias por ano. Eu não gosto de chuva, mas acredito que seja melhor viver com tanta chuva do que viver abaixo de neve com temperaturas congelantes, como é na costa leste. Nesse aspecto, o bom mesmo é viver no Brasil, no “frio” de Porto Alegre. 🙂

Brazil Grill Brazil Grill

Fomos jantar duas vezes em uma churrascaria brasileira chamada Brazil Grill, no centro da cidade. A churrascaria na verdade pertence a um americano que esteve no Brasil e se apaixonou por churrasco. Como não havia nada parecido em Portland, ele resolveu abrir o seu próprio. O churrasco não chega nem aos pés da Fogo de Chão, mas ainda assim é bem bom. A única brasileira que trabalha aí foi a garçonete que nos atendeu, muito linda por sinal. O pessoal ficou encantado. Mais uma das delícias do meu país. 😉

Esta cidade me faz pensar coisas interessantes sobre o Brasil. Quando a gente vê cidades como esta funcionando super bem, super bem dividida, sem congestionamento, fácil de andar pra todo lado, muito limpa, etc, muita gente pode encher a boca e dizer que é assim porque é um país rico e coisa e tal. Não, essas coisas não são feitas com dinheiro, e sim com inteligência, com visão. Boas idéias, que colocadas em práticas corretamente e no tempo de certo dão um imenso resultado mais tarde.

O maior câncer nos países sub-desenvolvidos é uma falta completa de visão e projeto de longo prazo. Todos os “projetos” que se vê em países assim são coisas minúsculas, de dois ou três anos, com interesses obviamente eleitoreiros. Enquanto o fator motivador de um projeto for eleitoreiro, corrupção, tapar buracos, etc, não se pode dizer que algo está em desenvolvimento.

Eu fico imaginando uma cena hipotética de políticos no Brasil discutindo um planejamento qualquer que venha a dar resultado em 2040. Me dá vontade até de rir. Por que eles fariam isso se a grande maioria não estaria vivo para ver (e se beneficiar de) o resultado?