Na atividade aérea, sempre dizemos que a segurança vem em primeiro lugar. Por mais criteriosos que sejamos em relação à segurança, nunca estamos livres de uma emergência. E é nessas horas que você é cobrado subitamente pelo destino a mostrar o que aprendeu. Porém, por mais conhecimento e experiência que se tenha, uma emergência não pode afetar o seu raciocínio lógico.
O caso abaixo aconteceu ontem na Florida, EUA, com um piloto de 22 anos e seu amigo voando para o evento aéreo Sun and Fun 2009, em Lakeland, naquele mesmo estado. Curiosamente, eles estavam com duas câmeras fixas filmando o voo, e consequentemente o incidente. Me admirou a calma do piloto, que foi determinante para um desfecho favorável e, felizmente, nada passou de um grande susto.
Logo nos primeiros voos de instrução, já começamos a treinar emergências. E você nunca sabe quando uma emergência vai acontecer. Por várias vezes, meu instrutor me pedia umas curvas e tal, pra me distrair, e do nada brrruuuuummm, motor caindo. “Estamos em emergência, comandante Dutra, e agora?” Nessas situações, há três palavrinhas mágicas que nunca mais podemos esquecer:
VOE, NAVEGUE E COMUNIQUE!
- VOE – a primeira coisa a se fazer SEMPRE, antes de qualquer outra coisa. Estabilizar o avião em um voo planado é primordial. Até um Boeing 747 plana muito bem por vários quilômetros se estiver na atitude correta. Se você perder o controle do pássaro por causa do susto, as chances de um bom desfecho são mínimas.
- NAVEGUE – escolha imediatamente para onde ir e comece os procedimentos para chegar lá e tentar um pouso seguro. O ideal é sempre “voar apoiado”, observando o solo e tendo em mente possíveis campos de apoio para a eventualidade de uma emergência.
- COMUNIQUE – agora sim há espaço para coordenação, seja com o piloto ao seu lado e/ou através da fonia via rádio, avisando de sua emergência, comunicando o local e a intenção de pouso. Com altura suficiente, dá para tentar verificar o que aconteceu, tentar dar a partida no motor novamente, etc. Mas jamais deve-se fazer isso antes dos dois itens acima.
No Brasil e em grande parte do mundo a frequência VHF 121,50 MHz é reservada para situações de emergência. Supostamente os centros de controle de tráfego aéreo estão sempre na escuta dela. Em casos de emergência alta, onde normalmente dá tempo de coordenar bem as ações, é fundamental sintonizar 121,50 MHz e reportar a emergência, de forma que o serviço de busca e salvamento (SAR) seja acionado imediatamente. Felizmente, até onde se tem notícia, o SAR é muito eficiente em nosso território.
Eu espero nunca precisar passar por isso na vida, mas de forma alguma podemos negar essa possibilidade. Só nos resta estar sempre preparados e manter a calma acima de tudo.
Não tenho dúvida que a aviação é o meio de transporte mais seguro que existe (talvez o segundo, depois do elevador). Mas isso não se dá por acaso, e sim pelo respeito e comprometimento de todas as pessoas (pilotos, mecânicos, tripulação, controladores, pessoal de terra, pessoal de carga, etc…) que movem as engrenagens dessa bela atividade.