Final de ano no Peru

Depois de um ano pesado de trabalho, Luana e eu estávamos precisando de um break. Sincronizamos nosso período de férias e fomos passar alguns dias no Peru, em Lima, onde vive boa parte da família do pai dela.

Diferente da viagem aos Estados Unidos em outubro, que envolveu bastante trabalho, desta vez a viagem não envolveu nada relacionado a trabalho. A propósito, estou devendo um post sobre essa viagem.

Conseguir passagem nessas épocas do ano é bem complicado. Queríamos ir depois do natal e voltar no início do ano. Tentamos comprar passagem com muita antecedência (meio ano), mas a Tam só permite emissão de passagens com pontos no máximo até 3 meses antes do voo de volta. Enfim, exatamente na data certa, fomos comprar as passagens e os voos estavam praticamente cheios. Conseguimos vaga em classe executiva no voo São Paulo – Lima, por 15.000 pontos cada. No voo de volta, estava tranquilo e viemos de classe econômica, 10.000 pontos cada.

A Tam tem coisas completamente inexplicáveis. Como fomos de executiva, eles não permitiram a emissão da passagem Porto Alegre – São Paulo – Lima simplesmente porque o trecho POA-GRU é operado por aeronaves sem classe executiva. Ou se compra tudo executiva, ou tudo econômica. Depois do tanto stress no telefone, desisti e emitimos só São Paulo – Lima e pagamos um voo pela WebJet um dia antes até Guarulhos. Como voltamos na econômica, conseguimos normalmente Lima – São Paulo – Porto Alegre. Absurdo!

Decolamos em Guarulhos pouco antes das 9h da manhã e pousamos em Lima 4h39min mais tarde. Eu já havia feito esse trecho duas vezes. Sem dúvida é o voo mais bonito que já fiz. Sobrevoar a cordilheira ao dia é muito precioso. Mas infelizmente nesta época está chovendo muito sobre a cordilheira, então estava praticamente tudo encoberto.

Uma curiosidade interessante: essa rota normalmente é feita quase em linha reta, sobrevoando La Paz, mas a aerovia entre La Paz e Lima abre e fecha de acordo com a condição meteorológica. Como é uma parte muito alta da cordilheira, as turbulências são fortes e pode deixar o voo bem desconfortável para os passageiros. No nosso voo, fizemos um grande desvio ao sul a partir de La Paz. Voamos de La Paz até Ilo, no sul do Peru, quase fronteira com o Chile. De Ilo, voamos direto pela costa até Lima.

O aeroporto internacional Jorge Chavez possui um terminal excelente. Muito bonito, grande e com uma estrutura muito adequada para o seu movimento. Fui informado que o aeroporto comprou uma área grande terra ao redor e deve começar a construção de sua segunda pista em breve.

Lima, como toda grande cidade, possui um trânsito dos infernos, mas comparando com 2008, quando estive lá, muita coisa melhorou. Todos (sim, todos, e muitos) os semáforos agora são digitais e interligados, permitindo um gerenciamento centralizado de todo o fluxo da cidade. A maioria deles possui contador regressivo no verde e no vermelho, o que é muito útil. Foi também inaugurado um sistema de ônibus expresso, que se chama Metropolitano. Eles andam em corredores nas vias expressas interligando distâncias maiores. Os usuários podem fazer conexão entre diferentes linhas sem pagar, desde que não saiam das estações. Muito interessante. Bogotá e Curitiba possuem sistemas semelhantes. Outra novidade que está em construção é o trem elétrico, que vai andar em vias elevadas cobrindo distâncias grandes também.

Outra coisa que melhorou um pouco é a mania dos motoristas buzinar o tempo inteiro por qualquer coisa. Há cartazes espalhados pela cidade alertando que os motoristas serão multados em caso de usar buzina desnecessariamente. Muita gente ainda está ignorando os alertas, especialmente os taxistas. Em geral, a educação no trânsito tem muito o que melhorar. A falta de respeito impera em todo lado, gerando um risco enorme principalmente para os pedestres.

Peru é o paraíso para os turistas que gostam que arquelogia. Em todo o país, onde se escava, se encontra algo, praticamente. Há registros de civilizações de 5000 anos. Encravado no meio de Lima, em Miraflores, está a Huaca Pucllana, construída pela Cultura Lima há mais de 1000 anos. No mesmo sítio há um restaurante bem interessante. É um pouco caro, mas a comida é muito boa.

Em Lurin, próximo de Lima, ao sul, está Pachacámac, que é um complexo arqueológico bem grande. O mais interessante aí é que no mesmo complexo se pode ver o deserto, bosques, a serra e o oceano. Seguramente na época era um local muito estratégico.

Visitamos nesse mesmo dias algumas praias ao sul de Lima. Paramos por algumas horas na praia de San Bartolo, que é bem bonitinha. Tentamos entrar na água e na primeira vez desistimos. As águas do Pacífico na costa do Chile e do Peru são muito frias, por causa da corrente de Humboldt, que vem do polo sul. Uma hora mais tarde tomamos coragem e nos atiramos na água. Os primeiros segundos são dolorosos, mas logo o corpo acostuma e fica bom.

O lugar mais interessante que visitamos nessa viagem foi Caral, que é a cidade mais antiga das Américas, com 5000 anos. A cidade foi descoberta há muito pouco tempo (1994). Há arqueólogos e pesquisadores de várias partes do mundo trabalhando aí. O local é muito grande e estão achando muitas coisas. Talvez no futuro se torne tão famoso quanto Machu Picchu.

Em Caral, fiz este panorama de 360 graus:

No último final de semana viajamos ao sul de Lima para conhecer Chincha, Pisco e Paracas. Essa zona foi severamente atingida pelo terremoto de 15 de agosto de 2007, com 7,9 graus na escala Richter e impressionantes 175 segundos de duração. Foi o terremoto mais intenso que se tem conhecimento no Peru. Três anos e meio depois ainda se vê muita destruição. No Google Earth, usando o recurso de imagens históricas, dá para ter uma noção do antes e depois do terremoto. É assustador.

Chincha e Pisco são cidades pequenas e não há muito o que ver. Paracas é outra estória. É um grande destino turístico, especialmente para quem tem condições de se hospedar nos maravilhosos hotéis que a cidade possui na beira-mar, incluindo um Double Tree by Hilton A principal atração de Paracas são as Islas Ballestas, situadas a 20 km da costa. A quantidade de aves e lobos marinhos é impressionante.

Já imaginou encontrar pinguins 13 graus abaixo do equador? Pois nas Islas Ballestas você os encontra. Lembra da corrente de água fria que comentei acima? Pois, essa mesma corrente possibilita um habitat para os pinguins peruanos, também conhecidos como os pinguins de Humboldt.

Perca alguns minutos e olhe as fotos que tomei aí. O lugar é impressionante. Luana fez este vídeo também, muito bonito.

Veja também as fotos da Luana.

Outro lugar que me encanta em Lima é o Parque de la Reserva, com o seu Circuito Mágico del Agua. As fotos falam mais que palavras.

Uma das melhores razões para visitar o Peru é a gastronomia. A variedade culinária é muito impressionante. Comemos bastante peixe, conchas, caranguejo, pato, cuy, porco, etc (vários etc). Comemos tanto que até passamos mal alguns dias. Um dos melhores tipos de comida no Peru é a chifa, que é uma adaptação da culinária chinesa, com vários pratos maravilhosos. Se encontra chifa por todo lado no Peru.

Foram duas semanas bem legais. Comemos vários tipos de comida, viajamos para o norte, para o sul, conheci a família da Luana, todos muito boa gente. Nos últimos dias já estávamos com saudade de casa e dos cachorros. Pretendemos voltar assim que possível.

Se você quer viajar e ver coisas diferentes e muito interessantes, considere o Peru. O país tem uma ótima vocação turística, além de uma boa infra-estrutura. A segurança nas cidades me pareceu bem melhor que no Brasil. A economia está indo muito bem, crescendo, com uma moeda estável. O real brasileiro vale bastante lá, então a viagem se torna muito barata.

Voltamos para São Paulo no dia 13 de janeiro. O mesmo avião que vai de manhã faz o voo da volta uma hora mais tarde, que também é um voo diurno. Na volta, a tal aerovia estava aberta e voamos direto para La Paz e São Paulo, fechando o percurso em 4h20min. Na volta conseguimos ver melhor a cordilheira com alguns picos nevados descobertos.

Pousamos em Guarulhos e para variar, não havia espaço no pátio para estacionar o avião. Ficamos 35 minutos esperando numa taxiway até liberar uma vaga na remota, para ir de ônibus até o terminal de desembarque. Parece que esse aeroporto vai ter que entrar em estado de calamidade até que se faça algo. Enfim, é assim que o Brasil recebe os turistas internacionais, muito diferente do Peru. Muito diferente!

Meia-noite chegamos em Porto Alegre e logo em seguida em casa. Lar doce lar! Valeu a pena. Voltamos com baterias carregadas para 2011.

A propósito, feliz 2011!