O Sonho Americano – parte 3

Leia também os posts anteriores: parte 1 e parte 2.

Vou falar sobre comida neste post, pois comida é algo importante quando a gente viaja, e para algumas pessoas talvez seja até o principal motivo de se realizar uma viagem, ou até mesmo evitá-la.

Comida nos EUA é um negócio interessante, porque não existe exatamente o prato típico do país, nem mesmo um prato típico aqui da Califórnia. É difícil explicar a razão disso, mas eu acredito que um dos fatores seja imigratório. Com gente vindo de tantos lugares diferentes do mundo, não é simples formar um consenso.

Uma das coisas que é muito popular no país inteiro é hamburger e batata frita. Como a popularização mundial de McDonalds, Burger Kings, entre outras cadeias, hamburger ficou negativamente associado com fast food, algo vagabundo e barato. Não discordo disso, mas não existe apenas esse lado. Um hamburger bem feito, com carne boa e magra, é muito bom e tão saudável quanto o bife que você come todas as semanas no Brasil. Batata por si é uma coisa bem boa. O óleo que você usa para fritá-la e a quantidade de sal vão definir quão saudável a combinação fica. Quando se fala em burger, há uma tremenda variedade para todos os gostos e bolsos. De todos que já experimentei, o que eu mais gosto é o Fuddruckers, da foto abaixo. Não é barato e não considerado fast food. Outro muito bom é o Five Guys, que tem um ambiente mais simples, mas a qualidade da carne também é de primeira. Eu poderia ficar o post inteiro listando boas opções, mas a Internet está pra isso.

Outro prato super típico do país é pizza, mas diferente de hamburgers, pizza pode variar bastante de região pra região. Em regiões grandes, como aqui na Baía de San Francisco, você consegue achar de todos os tipos, até as tradicionais italianas. O que mais me incomoda com pizza aqui, para alguém vindo do Brasil, é a escassez de sabores. As únicas pizzas que vendem em larga escala são pepperoni, muzarela e talvez vegetariana. Se acha outras, mas não é comum. Aqui em casa, a gente normalmente compra Domino’s, que é bem ok, e eles têm um sistema online bem legal onde você pode construir sua própria pizza, com várias opções de massas, molhos, recheios, etc. O preço é bem ok, na faixa dos US$ 25 por uma pizza grande.

O meu estilo favorito é o de Chicago (foto abaixo), que é praticamente uma torta de queijo, molho de tomate, e o que você quiser colocar por cima. Se você visitar Chicago, não deixe de ir na Pizzaria Giordano’s. É uma experiência à parte. Sem dúvida a melhor pizza que eu já comi na vida. Infelizmente eles não são uma cadeia nacional.

Uma das coisas que eu mais sinto falta do Brasil é buffet, seja livre ou por peso. O Brasil é perfeito nisso, seja nas capitais ou no interior. Em Porto Alegre, a abundância de bons buffets por preços bem razoáveis é fantástica, algo que praticamente inexiste aqui. Eu gosto muito de saborear um pouco de tudo e eu como muito com os olhos. Eu odeio cardápios! A quantidade de energia que me toma para decidir entre várias coisas boas me irrita muito. Enfim, mas aqui não tem outro jeito. Praticamente tudo é a la carte. Nos restaurantes que eu conheço, eu acabo comendo quase sempre a mesma coisa, pra não arriscar pedir algo que eu não vá gostar. O único lugar onde existe excelentes buffets é em Las Vegas, e a cidade é famosa por isso. Mas são bem caros, então não servem o propósito de comer todos os dias.

Outra coisa bem rara aqui é rodízio. Rodízio de churrasco sempre foi comum no sul do Brasil e nos últimos anos rodízio de outras coisas também virou comum, como pizza, sushi, etc. Existem lugares aqui onde você paga um preço fixo e come à vontade. Eles chamam isso de “all you can eat“. Não é nada comum, porém. Nós já fomos em alguns sushis que operam dessa forma. O preço nunca é barato, porque a galera é boa de garfo aqui e o restaurantes não vão perder dinheiro, claro.

Uma coisa muito comum nos EUA é cadeias nacionais. De tudo, desde farmácias, lojas de roupas, supermercados, etc. Com comida não é diferente. Grande parte dos restaurantes são cadeias e na absoluta maioria, franquias. O bom disso é que você sabe o que esperar a nível nacional, desde a comida, atendimento, ambiente, preço, etc. O lado ruim é que não existe o toque regional, porque todas as franquias são obrigadas a seguir as receitas da matriz. Se você quiser algo mais regional, também não faltam opções, sejam cadeias regionais ou até mesmo restaurantes familiares.

Dos que a gente mais frequenta, eu destacaria Applebee’s e Outback, que servem uma grande variedade de pratos (carne, frango, massa, frutos do mar, etc) por preços razoáveis. O Outback normalmente é um pouco mais caro. Outro que a gente gosta bastante é o Olive Garden, que é cozinha italiana com uma enorme variedade de pratos e preço bom. Pra quem curte frutos do mar, o Red Lobster é bem bacana, mas fomos bem poucas vezes. O preço médio por pessoa neles fica normalmente nos US$ 30-40.

Para ocasiões bem especiais, o meu favorito é o Fleming’s Steak House, que é a da mesma empresa que controla o Outback. A qualidade da carne é excepcional, sempre maturada por várias semanas, com origem controlada e tal. Pra quem gosta de carne, vale a pena conferir. Não é barato. A última vez que fomos lá, comemos bem, com entradas, steak como prato principal, alguns acompanhamentos e sobremesa. Não bebemos nada alcoólico. A conta foi uns US$ 110 por pessoa.

Um que não posso deixar de mencionar é o The Cheesecake Factory. Na minha opinião, é um dos melhores custo-benefícios em restaurantes no país. A comida é normalmente excelente e o melhor está na sobremesa. Mais de 40 tipos de cheesecakes deliciosas. O único problema é que todas as porções são gigantes, então é quase impossível comer uma salada, prato principal e sobremesa. O preço é bem ok, na faixa de uns US$ 50 por pessoa na conta final.

Outro restaurante que a gente adora é o Bubba Gump. Esse restaurante foi criado em homenagem ao filme Forrest Gump. É praticamente um restaurante de camarão, embora o cardápio possua vários outros pratos. O ambiente é sensacional, principalmente pra quem é fã do filme.

Na linha fast food, os que mais consumimos são: Taco Bell, que é uma rede americanizada de comida mexicana. Eu gosto bastante dos burritos e nachos deles; Kentucky Fried Chicken (KFC), que é especializado em frango frito, mas vendem grelhado também; e Sonic, que tem uns burgers bem decentes a preços bons.

Churrasco estilo brasileiro é bem incomum por aqui, a menos que você vá a um restaurante brasileiro, que normalmente são bem caros. O meu favorito aqui é a Fogo de Chão, que tem vários restaurantes no país. Sem vinho, você vai sair de lá com uma conta de US$ 70-80 por pessoa. Pra certas ocasiões, vale a pena. A qualidade de carne e do atendimento é o mesmo encontrado nas melhores churrascarias brasileiras.

Fazer churrasco em casa é uma opção, mas você dificilmente vai achar os mesmos cortes. No Brasil, eu gostava muito de comprar fraldinha (vazio no Rio Grande do Sul) e maminha, coisas que não existem aqui. Normalmente eu compro costela aqui, mas em janela, ao invés de cortado em tira, como no Brasil. Se o lugar onde se está comprando tem açougue, dá pra pedir pra cortar em tiras. Carne geralmente é bem caro. Uma boa costela pode custar uns US$ 30 por quilo.

Churrasqueira em tijolos obviamente não existe em casa alguma. Carvão vegetal até se acha em vários mercados, pra usar com churrasqueiras pequenas, com pés. Aqui em casa temos uma bem boa a gás, com uma grelha bem legal, como vista na foto abaixo com duas janelas pequenas de costela. Os mais saudosistas sempre vão dizer que o gosto não é o mesmo se comparado com carvão, mas na verdade eu não percebo diferença alguma. Dá pra fazer coisas bem decentes aí com um pouco de criatividade.

Um ponto que os EUA se destaca forte em relação ao Brasil é na culinária internacional. Não podia ser diferente, sendo um país com tantos imigrantes. Nas grandes cidades, a quantidade de opções de tudo que é o canto do mundo é impressionante. Esse é um lugar que as grandes cadeias não se criam. Todos os restaurantes internacionais decentes são normalmente familiares, e geralmente tocados por nativos daquele país. Aqui na Califórnia, como não podia ser diferente, a maior variedade desses restaurantes é chinês e indiano. Nós nunca fomos num indiano, mas já comemos em vários chineses. Esqueça China in Box no Brasil, porque isso é qualquer coisa menos chinês (mas eu adoro o yakisoba deles). O ruim desses restaurantes aqui é que normalmente os cardápios são em chinês com traduções porcas. Não adianta pedir muito explicação, pois é comum das pessoas não falarem inglês muito bem, mesmo vivendo aqui há anos. Mas quando você aprende a pedir as coisas certas, o resultado é impagável.

De comida internacional, o nosso favorito é japonês. Vamos com bastante frequência e demos uma tremenda sorte que o nosso filho adora sushi. Todos os bons são de famílias japonesas. Em termos de qualidade, não vejo muita diferença no Brasil, onde a gente comia sushi muito bem também. Assim como Brasil, sushi aqui não é barato, mas dá pra se virar ok gastando uns US$ 35-40 por pessoa, normalmente.

Um aspecto chato dos EUA nos restaurantes é a cultura da gorjeta (tipping), que pode surpreender muitos turistas de fora que não estão acostumados a isso. O preço que você vê no cardápio é sempre sem impostos. Aqui na Califórnia, sua conta vai ser uns 9% acima do que está no cardápio. Quando você paga a conta com cartão de crédito, o papel que você assina tem um campo para determinar a gorjeta. O sugerido é algo entre 15% e 18%, se o serviço for bom, sendo 18% o mais comum. Se o serviço for excepcional, é comum se dar 20% ou até mais. Dar menos que 15% é como enviar uma mensagem que o serviço não foi bom. Não dar nada é extremamente grosseiro e é aqui onde os turistas podem passar vergonha. Em alguns restaurantes menores, não é incomum de virem lhe questionar por que você não deu nada. Os restaurantes em geral pagam salários miseráveis pros atendentes, que fazem o grosso da sua remuneração através de gorjetas. Eu normalmente dou 18% a menos que o serviço tenha sido ruim. O chato disso tudo é que muitas vezes o atendimento parece ser artificialmente gentil, porque o atendente sabe que vai ser remunerado justamente por isso. Enfim, há um lado bom nisso, claro. Eu prefiro ser bem atendido, mesmo que artificialmente, do que ser mal atendido. Mesmo assim, sempre há lugares com atendimento bem aquém do desejado.

Um ponto interessante aqui é a grande oferta de produtos orgânicos, principalmente aqui na Califórnia. Existem redes de mercados especializadas nisso até. Não que não se ache no Brasil, mas é bem menos comum e normalmente bem mais caro que as opções entupidas de agrotóxicos.

Outra coisa interessante aqui é que é bem comum se comprar comida importada, até mesmo perecível, algo que é raríssimo no Brasil. O país importa 17% da comida que consome, o que é bem significativo até, então é bem comum comermos bananas do Equador, laranjas brasileiras, etc.

Comida boa é geralmente bastante cara, sendo essa uma das grandes razões da proliferação das cadeias de fast food. Se você trabalha numa cidade grande e não tem como almoçar em casa, é bem provável que você vai se acostumar a comer porcaria ao meio-dia e esperar para fazer uma refeição mais decente à noite. E é essa bem a cultura do país. A principal refeição é normalmente a janta. O café da manhã normalmente é bem mais generoso em calorias que no Brasil também.

Enfim, no geral, eu sinto falta do Brasil no aspecto comida. O fácil e barato acesso a bons restaurantes diariamente é uma grande vantagem. Comer bem na rua todos os dias aqui é caro demais. Sinto bastante falta de um bom churrasco também, principalmente entre amigos.

Nossa, depois de escrever tanto sobre comida, me abriu o apetite, tche. Uma picanha cairia super bem agora. 🙂