Equinox

Terra no equinócio

Hoje às 11h44 UTC (8h44 hora de Brasília) passamos pelo equinócio. Fiz o screenshot acima agora a pouco no Google Earth. A incidência dos raios solares está perfeitamente alinhada com os meridianos. O sol nasce e se põe rigorosamente a leste e oeste, respectivamente. Massa, né?

Estamos começando a temporada de noites mais longas que os dias no hemisfério sul. Que triste. 🙁

Saiba mais na Wikipedia, claro.

Asas de um sonho

Todo menino cresce com uma série de sonhos, sonhos esses que vão variando de acordo com a idade. Tenho vaga lembrança de querer ter sido caminhoneiro e bombeiro quando era pequeno. Já mais grandinho, tipo uns 6-7, veio o fascínio por carros. Eu devia ler mais 4 Rodas do que gibis para crianças da minha idade. Tinha um interesse também por caminhões e ônibus, especialmente os mais modernos, cheio dos reloginhos e botões. Mas nada nunca me chamou tanto atenção quanto os aviões.

Me criei no interior do Rio Grande do Sul, em Rio Grande, e como toda a cidade do interior, a presença de aeronaves era algo muito pacato. Uma ou duas vezes por dia se via um passando, o que era um acontecimento, claro. Eu lembro muito bem de que quando ouvíamos o barulho de um avião, saíamos para o pátio para abanar. Tento imaginar a cena, nós crianças olhando para o céu com caras de encanto, provavelmente sonhando em estar lá em cima fazendo o inverso.

Depois dos 13 anos veio a fase da bicicleta, onde creio que todos nós meninos dessa idade gastávamos toda a mesada para incrementar a magrela com câmbios shimano, aros de alumínio, etc e tal. Por razões óbvias de segurança, minha mãe não me deixava ir longe, muito menos pegar uma estrada de bicicleta. E meu histórico de acidentes não era baixo. 🙂 Me recordo de ter infringido essa “regra” umas duas ou três vezes com meus amigos, quando fomos pedalando até o aeroporto da cidade para ver os aviões. Uma vez nos deixaram entrar no hangar para ver mais de perto. Nunca esqueci essa cena. Sempre tive um encanto por tecnologia, botões, reloginhos, qualquer porcaria eletrônica. Um painel de avião é a junção perfeita de tudo isso. Além disso, eu tinha um grande fascínio por altura, ver as coisas de cima, fotos aéreas, etc. Saí daquele hangar com um sonho plantado na minha cabeça de menino: um dia eu vou pilotar um negócio desses!

Me recordo uma vez também que o Leonel Brizola visitou Rio Grande e foi feita uma passeata onde eu estava junto com meu pai no carro. Como meu pai fazia parte da comitiva que o recebera, fomos mais tarde acompanhá-lo até o aeroporto local. Creio que foi a primeira vez que eu vi um avião a jato de perto. Acho que era um LearJet. A cena daquele avião rasgando o asfalto na nossa frente ainda persiste na minha memória.

Isso tudo para mim era uma utopia, assim como outros vários sonhos que vão se formando na nossa cabeça ao longo do nosso crescimento. Sempre fui louco por estrada, viajar, conhecer outros lugares. Sempre gostei demais de geografia. Desde criança era doente por mapas e atlas. Poderia ficar horas e horas sonhando com os lugares que eu poderia conhecer daqueles mapas. Um avião poderia me levar daqui pra ali, dali pra lá, de lá pra cá… Genial! Uma característica que eu trouxe da minha infância certamente é a de um sonhador, mesmo embora eu achasse que muito disso fosse utopia, mas o simples fato de sonhar já era algo bacana pelo menos.

Ao completar 15 anos, minha família, com um esforço enorme, me deu um microcomputador, esforço esse que selou o meu destino até os dias de hoje. A minha paixão por tecnologia se acentuou de tal forma que isso naturalmente acabou por virar a minha profissão. Aquela utopia de pilotar um avião foi ficando pra trás.

Aos 20 anos, encarei o desafio de deixar a casa da família e seguir o rumo na cidade grande. Não poderia ter tomado melhor decisão na vida. Um dos pontos mais positivos dessa mudança foi a de começar a perceber que alguns daqueles sonhos de guri poderiam até se tornar realidade, que não era algo tão distante quanto eu imaginava. Como eu não tinha muitos amigos em Porto Alegre nos primeiros tempos, passava algumas tardes no aeroporto Salgado Filho (na época no terminal antigo) olhando o movimento dos aviões subindo e descendo através do vidro do terraço. Como eu queria estar dentro deles, nem que fosse como passageiro mesmo.

No ano seguinte surgiu uma viagem a trabalho, e outra, e outra, e outra, e mais outra, que rapidamente me tornei um passageiro frequente. Em poucos anos, já havia acumulado centenas de milhares de milhas em programas de milhagem, havendo passado por aeroportos em todos os cantos do Brasil e nas três Américas (ver post “Aeroportos por onde estive“). Quando que eu iria imaginar isso? O fato é que isso só aumentou minha vontade de um dia pode estar no comando daquele “pássaro”.

Como um bom sonhador, há alguns anos me despertou a curiosidade de ver que tão difícil seria se tornar um piloto. Putz, era muito caro para as minhas condições na época, mas não tão caro ao ponto de eu me conformar que nunca poderia fazer isso.

Mais alguns anos se passaram até que encontrei um colega de trabalho, Alberto, que compartilhava da mesma paixão, mas que o destino também o levara para a computação. Alberto já se virava bem nos simuladores, e eu acabei pegando gosto pela coisa também. Isso, de certa forma, acabou despertando meu interesse sobre o assunto e comecei a acompanhar vários sites e fóruns de aviação na Internet.

No início do ano passado, resolvemos verificar mais detalhadamente o que seria necessário para voarmos de verdade. O simulador já estava ficando sem graça. 🙂 Com todas as informações em mãos, vimos que a jornada era grande e a facada um pouco salgada, mas nada de outro mundo. Naquele momento eu já não podia mais voltar atrás. Estava a um passo de iniciar a materialização de um sonho que me acompanhava desde a pequena infância. Tomamos coragem, decidimos por fazer, e começamos a jornada.

Na aviação, tudo começa por um severo exame psicotécnico e um check up completo de saúde (física e mental). O psicotécnico foi bem pesado, muito pior que para tirar carteira de motorista. Em seguida há que fazer o check up completo de saúde em um hospital da aeronáutica. Lá fomos nós, um dia inteiro quase na Base Aérea de Canoas, com exames de sangue, urina, clínica, psiquiátrico, audiometria, eletro-cardiograma, eletro-encefalograma, raio-x, entre outros. Pelo menos não teve o tal do toque retal. Tudo certo com a saúde, saí com o meu CCF (certificado de capacidade física) classe 2, para pilotos privados. A cada 2 anos, há de renová-lo.

Antes de pensar em pilotar uma aeronave, é necessário um vasto conhecimento teórico. Decidimos fazer toda a formação no Aeroclube do Rio Grande do Sul, que possui uma das escolas aeronáuticas mais conceituadas do Brasil, tendo formado muitos dos pilotos da Varig nos velhos tempos e continua formando muita gente até hoje. Foram 6 meses de aulas todos os dias à noite, com as cadeiras de meteorologia aeronáutica, conhecimentos técnicos e motores, teoria de voo, navegação aérea e regulamentos de tráfego aéreo. O curso foi sensacional. A troca de experiência com o pessoal mais velho não tem preço. Nosso professor de regulamentos, por exemplo, está na aviação desde 25 anos antes de eu nascer, hoje um grande instrutor de todos os pilotos da Tam. Não tem dinheiro que pague assistir uma aula com alguém com essa bagagem toda. Como ele mesmo dizia, o bate-papo na aula, o que ele chamava muito corretamente de “cultura aeronáutica”, valia mais que a aula em si.

No meio do curso teórico comecei com os voos de fato, obviamente sempre com o instrutor. Antes do primeiro voo, se cria uma expectativa bastante grande, afinal há quantos anos eu sonhava com aquele momento. Mas na verdade, na hora é tanta tanta coisa pra se preocupar, que você acaba não pensando em mais nada. É como quando você aprende a dirigir, que você fica tão preocupado com o carro que esquece do trânsito. Nos meus primeiros voos, eu não arriscava olhar pro lado, porque o avião em si tomava conta de 100% da minha capacidade cerebral. Como a gente fala na computação, “o CPU está colado em 100%”.

A lei brasileira permite que você comece a voar com instrutor antes de prestar a prova teórica (que se chama de banca) na ANAC, desde que tenha o CCF. Porém, sem a banca, você não pode prosseguir com o curso e voar solo. Como eu fiquei quase um mês no exterior, perdi umas três semanas de aula no aeroclube. Baixei a cabeça e estudei muito para prestar a banca. Poucos dias antes do natal, fizemos a prova e passamos de primeira. Das 5 provas, a minha média mais baixa foi 80% e gabaritei navegação. Eu tinha me preparado para uma prova muito mais difícil. 🙂 Nesse instante, adquiri minha licença vitalícia de piloto privado, faltando apenas as habilitações técnicas, essas temporárias e pra cada tipo de avião (mono-motor, multi-motor, jatos…) e/ou tipo de operação (visual ou instrumentos).

Já devo andar agora pela minha décima hora de voo, já bem mais tranquilo que nas primeiras horas. Já não brigo tanto com o avião, ou ele não briga tanto comigo. Já consigo me orientar bem, voltar pro aeroclube, respirar mais, observar a paisagem, etc. Já decolo sozinho e quase pouso, com um auxílio do instrutor no toque final. Enfim, estou procedendo com o treinamento dentro dos parâmetros esperados para um aluno aplicado. Uma coisa que meu instrutor gosta muito de mim é que eu me cobro muito e sou extremamente perfeccionista. Numa atividade onde não há espaço para erros, isso pode fazer toda a diferença.

Talvez dentro de mais dez ou quinze horas, eu esteja apto a fazer o meu primeiro voo solo. O primeiro voo solo é o voo mais importante da vida de qualquer piloto no mundo. É o primeiro voo que o instrutor não está ali pra desfazer a sua cagada, para lhe dizer o que fazer. Nem que ele não faça nada, mas a simples presença do instrutor já dá uma grande tranquilidade. Confesso que já estou bastante apreensivo, muito pela minha forte auto cobrança, mas o que seja, creio que isso deixaria qualquer um bem ansioso.

Relembrando um pouco a minha infância e juventude e escrevendo este texto, eu vejo que como é possível a gente realizar muitos dos nossos sonhos, inclusive aqueles lá de criança. Uma das coisas mais importantes na nossa vida é a perseverança. De alguns anos para cá, eu amadureci uma fé inabalável de que o impossível muitas vezes é algo que plantam na sua cabeça.

Vale a pena correr atrás de um sonho. Pode ser que seja um sonho remoto, pode ser até uma utopia, na verdade. Ou não.

Asas de um sonho” é o nome dado a um museu de aviação criado pela Tam em São Carlos – SP, empresa essa fruto de um grande sonhador, o Comandante Rolim Amaro.

Veja também o post do Alberto sobre o mesmo assunto.

Feliz 2009, USA trip…

Agora que o ano está finalmente para começar, uma vez que estamos deixando o carnaval pra trás, venho dar os meus votos de feliz 2009 a todos. Reconheço que deveria ter feito isso lá pelo final de dezembro, mas sabe como é, a falta de tempo é sempre um grande problema, então vamos usar o carnaval como pretexto pro atraso, se é que cola.

USA Trip

Na final do ano passado (2008) passei quase um mês pelos Estados Unidos. Como foi meio correria, acabei não postando nada de lá, como normalmente faço. O principal motivo, ou pretexto, para a viagem foi participar novamente da RSNA, que é um grande evento da indústria médica em Chicago, o mesmo que já havia participado em 2007, quando fui com meu colega Pablo.

O que me “forçou” a ir também foi que eu tinha umas 100 mil milhas prestes a vencer na Tam, então essa viagem foi praticamente de graça. Apenas arquei com as taxas de embarque, pois emissão de passagens com milhagem não cobre isso.

Como a Tam agora tem acordo de code share com a United Airlines, pude fazer os trechos direto com a United, fazendo só a perna Porto Alegre – São Paulo pela Tam. Nada contra a Tam, mas a United voa direto para Washington DC, onde seria a minha primeira parada. Já sofri muito aborrecimento com conexões, então nada melhor que evitá-las.

Voei para lá na semana do feriado de ação de graças, que acontece sempre na quarta quinta-feira do mês de novembro. Como o evento em Chicago começaria apenas na semana seguinte, reservei essa semana para passar uns dias na capital federal com a minha querida amiga Silvia. Fazia alguns anos que eu não a via.

É estranho passar ação de graças nos Estados Unidos, pois é o feriado mais importante do ano pra eles, onde as famílias se reúnem tudo. Assim como eu, Silvia não é norte-americana, embora viva lá, então a gente acaba se sentindo meio deslocado, pois não compartilhamos dessa cultura. A maior tradição desse feriado é comer peru na noite de quinta-feira, entre outras milhares de coisas. Tradicionalmente, cada membro de família traz algo para compor a mesa super-hiper-calórica. Apple pies, cherry pies, turkey, rice, ice cream, etc, etc…

Fomos convidados por um casal iraniano, onde trabalha uma amiga de Silvia, para a super janta, o que foi bastante agradável. Eles moram há muitos anos nos Estados Unidos, e deixaram o Irã por perseguição política, pois eram grandes pesquisadores universitários, ele cientista político. Fiquei feliz de eles terem compartilhado um pouco da história deles conosco e nos falado um pouco sobre aquele país, que vive hoje debaixo de um regime fundamentalista opressor. Naturalmente não posso comentar aqui detalhes, por uma questão ética.

A sexta-feira pós ação de graças é conhecida como black friday (sexta negra), onde milhares de lojas fazem grandes promoções. É tradição lá as pessoas passarem a noite em filas imensas aguardando a abertura das lojas às 5h00 da madrugada, para pegarem as melhores ofertas. Lembrando que as noites nessa época são sempre abaixo de zero graus célsius. Coisa de louco mesmo.

Nós não iríamos compartilhar dessa maluquice, então acordamos quase meio-dia e saímos de tarde para ver se ainda havia algo interessante. Fomos até Woodbridge, na Virgínia, onde há um grande outlet shopping, o Potomac Mills Mall. Silvia conseguiu várias coisinhas para presentear a família no natal. Eu, quase nem um pouco mão-de-vaca, comprei apenas um tênis na Nike Store, em promoção por US$ 30,00, bem barato mesmo. As lojas estavam uma bagunça, de tanta gente vasculhando o que comprar. Viva o consumismo! 🙂

No sábado fomos visitar a Air Space Museum, que fica anexo ao aeroporto internacional Washington Dulles (IAD). O museu ostenta a maior coleção histórica de aviões e tralhas espaciais do mundo. Além de aeronaves, há de tudo do mundo da aviação, como vários tipos de motores, hélices, asas, protótipos, etc. Na foto ao lado está o famoso Lockheed SR-71 Blackbird. Esse exemplar aí bateu o recorde de velocidade voando de Los Angeles até Washington DC em meros 64 minutos, a uma velocidade média de 3.524 km/h, ou a mach 3.2. Além dessa pérola, há no museu um Concorde da Air France, o ônibus espacial Enterprise, o módulo de comando da Apollo 11, entre várias outras relíquias. Eu como piloto novato, fiquei fascinado, obviamente. Preciso voltar lá e passar um dia inteiro com calma, pois é muito grande. Tem até um cinema IMax com vários vídeos de aviação.

No domingo cedo voei para Chicago. Em Washington estava frio, mas um frio bastante suportável e sem neve. Em Chicago, a coisa é bem diferente. Logo que saí do terminal do aeroporto O’Hare, já previ como seriam os próximos dias. Nevava bastante e a sensação térmica andava pelos -15c, de arrepiar. Peguei a van do hotel onde me hospedei e fiquei lá esperando pelo James e pela Kimberly, que vinham de Detroit de carro. Eles chegaram 2 ou 3 horas mais tarde, pois pegaram muita neve durante a viagem.

Botamos toda a conversa em dia e adivinha onde fomos jantar? Na Churrascaria Fogo de Chão, claro, bem ao estilo gaúcho de comer bem. Eles dois são americanos e são loucos por churrasco. Nada como um amigo brasileiro os visitando para servir de pretexto para ir a uma churrascaria.

Na segunda-feira passamos o dia todo na RSNA. Diferente de 2007, dessa vez fui ao evento apenas um dia. Dei uma circulada para ver se havia algo de novo e nada me chamou a atenção. Gostaria de ter ficado a semana toda para ir mais a fundo no que estava rolando, mas como a partir desse momento eu estava de carona, tínhamos que voltar a Detroit no dia seguinte.

O estacionamento do hotel era descoberto e nas duas noites em que ficamos lá nevou bastante. De manhã a rotina era retirar o amontoado de gelo que se prendia sobre o carro. Estimo que tenha sido umas 2 polegadas, o que eles julgam ser bem tranquilo. Pra mim, já era um absurdo. 🙂 Nas piores noites de inverno, é comum acumular 10-15 polegadas de neve. Caraca…

Tem muita gente que diz que carro com aquecimento nos bancos é frescura. Bom, depende da circunstância né. Eu estava achando isso muito útil!!!

Na terça-feira eu viajei com eles de volta pra Detroit. Antes de pegar a estrada, andamos pelo centro de Chicago para fazer umas comprinhas, claro. Let’s go shopping!! Pra variar, eu não comprei nada. Apenas ajudei a carregar sacolas. Almoçamos na Cheesecake Factory (hmmmmmmm), que fica no térreo do John Hancock Center. Caí na estupidez de pedir uma salada e um prato principal. Quando olhei o tamanho da salada, me assustei. Quando vi o prato, me assustei de novo. Era MUITA comida e MUITO boa. Saí de lá triste e com um peso tremendo na consciência, e outro no estômago. Começara ali uma reviravolta intestinal que me massacrou por vários dias.

Passei as próximas duas semanas congelando em Michigan na casa do James. Como sempre, fui maravilhosamente recebido por sua família, sempre muito hospitaleira. Me senti em casa. O dia-a-dia era basicamente sempre o mesmo, casa-trabalho, trabalho-casa. A primeira semana foi triste, com meu intestino insistindo em piorar. Procurei me manter a uma distância segura de um banheiro. Fui melhorar, após uma batelada de remédios e litros de gatorade só no sábado.

Fotinhos do clima (clique para ver outras):

Waterford -> Mackinaw CityNo domingo, como estava um pouco melhor, saímos para passear. Pegamos a estrada I-75 ao norte e fomos até Mackinaw City, percorrendo o trajeto ao lado (clique para ampliar). Aí há a Mackinaw Bridge, uma ponte pênsil enorme, com 8 km de comprimento e 160 metros de altura. É aí onde os grandes lagos Michigan e Huron se encontram. É  uma importante rota de navegação nos Estados Unidos. Do outro lado da ponte é a península alta de Michigan. Um pouquinho mais ao norte já fica a província de Ontario, no Canadá, também onde começa o Lago Superior. Fiz algumas fotos legais durante o caminho de ida. Dá pra ver bastante neve! Como se pode notar no mapa, há muito poucas cidades ao norte de Michigan. Embora o estado seja famoso por ser o berço da indústria automobilística, sediando as gigantes GM, Ford e Chrysler, mais ao norte é essencialmente um estado agrícola, grande plantador de milho. Obviamente, nesta época não se planta nada, pois está tudo congelado. É muito massa olhar aqueles campos imensos se perdendo no horizonte completamente branquinhos. Nem bactéria deve sobreviver ali por agora.

Na volta, saímos um pouco para oeste, costeando o Lago Michigan, e jantamos na cidadezinha de Harbor Springs, que fica na beira da Little Traverse Bay. É um destino famoso de veraneio dos endinheirados. É um local praticamente no meio do nada, muito bonito, natureza pra todo lado. Tem cada casa aí de cinema. Por estar junto ao lago, essa gente toda tem barco. Deve ser uma curtição e tanto no verão. Nesta época, tinha muito pouca gente, porque o frio é intenso. Mesmo assim, achamos algumas coisas abertas. Jantamos num restaurante pequeno, bem aconchegante, na beira da baía, até com atracadouro para clientes que chegam pela água. Daí, voltamos direto pra casa. Dá gosto viajar em estradas decentes. Mesmo no inverno, é muito tranquilo e seguro. Em Michigan, o limite de velocidade é de 70 mph (112,7 km/h), o que é bem razoável. Exceda o limite e logo logo surge uma sirene do além pra te multar.

Na terça-feira, dia 9 de dezembro, dei uma palestra no encontro de usuários do Michigan User Group, que é um grupo de usuários de Unix bem antigo. A palestra foi na biblioteca comunitária de Farmington Hills. O assunto abordado foi um case de sucesso da Propus sobre um cliente nosso de Manaus, no Amazonas. Os slides da palestra já estão disponíveis em PDF. Foi bem bacana. O pessoal parece ter gostado bastante, especialmente quando eu expliquei os desafios de uma grande cidade no meio da maior floresta tropical do mundo, especialmente no que tange telecomunicações. Ninguém acreditou que uma empresa com mais de 5000 computadores pode sobreviver hoje em dia com um link de Internet de meros 2 Mbps.

No início da palestra, você sempre fica um pouco apreensivo de não conseguir entregar o conteúdo com qualidade num idioma diferente do seu nativo. Perguntei depois para alguns amigos como tinha sido o “delivery” e recebi um ótimo feedback. Parece que deu pra entender tranquilamente. 🙂 No Peru, em agosto, tive que apresentar para 2500 pessoas em espanhol, e foi bem na paz até. Falar para 50 pessoas em inglês é bem mais fácil hehe.

No sábado voltei para Washington DC, onde fiquei mais um dia. Silvia e eu fomos jantar na Fogo de Chão, bem no centrão da capital, perto da Casa Branca. A última vez que Silvia tinha comido churrasco foi quando esteve no Brasil em 2005, então eu havia prometido isso a ela na minha passagem de retorno pela cidade como presente de natal. Chegamos lá sem reserva e estava lotado, pra variar. Tivemos que esperar quase 2 horas por uma mesa, mas valeu a pena. A comida estava excelente, atendimento de primeira, mas a conta, putz, essa doeu. Aqui está o recibo de pagamento. Com o dólar a R$ 2,50, isso dá mais de R$ 400,00.  Mas, promessa é dívida e presente não tem preço. Como diz meu amigo James, it’s only money. No dia seguinte do pagamento da fatura do cartão a gente já esquece. 😀

Saímos caminhando por alí para baixar a comida. A famosa árvore de natal de Washington (National Christmas Tree) já havia sido montada em frente à Casa Branca, na praça Ellipse. Estava muito bonito e cheio de gente, embora a temperatura estivesse na casa dos -2c. A noite estava lindíssima, com uma bela lua cheia iluminando tudo. Eu fiquei p%$@#$% da cara pois esqueci a minha câmera no hotel, próximo ao aeroporto Dulles, uns 30 km dali. Perdi umas fotos noturnas memoráveis. Até tri-pé eu tinha no hotel. Que merda! 🙁 Restou apenas a foto ao lado, feita pelo celular. Nada perto do que poderia ter sido feito com uma reflex.

Domingo voei de volta de Washington para São Paulo, 9 horinhas de voo. Em seguida, última perna até Porto Forno Alegre, que já anunciava o verão escaldante que vinha pela frente. Essa era a última semana útil do ano, então bastante serviço me esperava. Na semana seguinte já viajaria para Rio Grande para passar as festas com a família.

No geral, foi uma viagem bacana. Embora estivesse trabalhando também, deu para descansar durante alguns dias. E sempre é bom rever amigos, especialmente quando estão longe.

Machu Picchu #2 e o Vale Sagrado dos Incas

Finalmente o último relato, sim, bastante atrasado. 🙁 Mas antes tarde do que nunca.

Ao chegar em qualquer sítio arqueológico, os guias vão sempre lhe metralhar de informações, o que é legal e tal, mas tem horas que você quer apenas ficar em silêncio admirando a paisagem. É assustador a quantidade de guias em Machu Picchu, falando diversos idiomas e com grupos de tudo que é canto do planeta. Afinal, é um dos lugares mais visitados do mundo. Nosso guia Johnny era bem gente boa, explicava as coisas com um certo humor e dava tempo para todo mundo tomar fotos, admirar, etc.

Ninguém sabe ao certo a origem de Machu Picchu, o que torna a coisa mais interessante ainda. É curioso ouvir a opinião dos locais, que geralmente são bastante divergentes. Existem várias lendas, umas mais concretas, outras mais divinas. Cada um acredita no que quiser. De acordo com pesquisas científicas, sabe-se que a cidade foi criada no século XV, por volta do ano de 1460. De todas as grandes construções Incas, Machu Picchu foi a mais moderna e supostamente a mais sagrada.

Quando os espanhóis chegaram no início do século XVI, eles dizimaram os Incas e destruíram muitas de suas construções. Em Cusco, por exemplo, há várias construções coloniais que foram feitas sobre os templos Incas, para afirmar a superioridade dos “conquistadores”. Porém, os espanhóis nunca encontraram Machu Picchu, e a cidade ficou perdida por séculos, conhecida apenas por agricultores da redondeza, que não davam bola pro local, pois era de difícil acesso e não servia muito pra agricultura.

Sabendo da possível existência da cidade sagrada, o historiador explorador americano Hiram Bingham, com a ajuda dos agricultores locais, achou a cidade abandonada em 1911 e anunciou o fato para o mundo. Machu Picchu sofreu então um grande trabalho de limpeza e em seguida foi montada uma grande estrutura de acesso, com linha férrea e uma estrada de terra pra subir a montanha, assim se tornando umas das atrações turísticas mais importantes do mundo, e a principal fonte de renda do Peru. Bingham levou toda a fama de o “descobridor”, mas de acordo com os locais, ele não passava de um explorador atrás de fama e dinheiro. Bom, certamente o conseguiu e de certa forma teve seu mérito.

Das teorias sobre o que aconteceu com a cidade, se ouve de tudo, como uma grande epidemia que matou todo mundo, mas curiosamente nunca foi encontrado nenhum fóssil por ali; uma possível guerra entre os Incas e os conquistadores, mas curiosamente tudo estava intacto e não havia rastro de sangue… A teoria que mais se sustenta é que os Incas, ao saber da invasão espanhola, que já tinha chegado em Cusco e arredores, abandonaram a cidade voluntariamente e fecharam todos os seus acessos para protegê-la, pois era o sítio mais sagrado deles. Provavelmente retornaram em direção a Cusco, onde foram todos mortos pelos espanhóis, que então nunca ficaram sabendo de Machu Picchu. O único acesso que existia nessa época era a famosa Trilha Inca.

Enfim, há muito o que ler (e escrever) sobre Machu Picchu, e não é o propósito deste post servir como uma referência. Certamente vale mais a pena ler o artigo da Wikipedia sobre o assunto.

A visita à cidade é de certa forma bastante rápida. Se gasta muito mais tempo para chegar lá e voltar do que se gasta na visita em si. Por volta das 14h00 já havíamos descido de volta a Machu Picchu Pueblo, onde almoçamos e ficamos passeando. Veja algumas fotos da cidadela, que é super interessante e bem pequeninha. Diferente de Cusco, tudo é extremamente caro por aqui. Como a grande maioria dos turistas vem de países ricos, pra eles é bem tranquilo. Nós sentimos a diferença. A estrutura é bem decente, com vários restaurantes bons, pousadas bem arrumadas e artesanato por todo lado, claro.

Dormimos cedo, pois tínhamos que estar na estação de trens para tomar o primeiro trem para Ollantaytambo, que partia às 5h30. Chegamos na estação antes das 5h00 e já havia fila. A viagem de volta foi bem tranquila e dormimos boa parte do tempo. Chegamos na estação de Ollantaytambo pouco depois das 8h00. Nosso guia, Jonathan, já estava nos esperando conforme o combinado, para nos conduzir pelo Vale Sagrado e então de volta a Cusco.

Normalmente as visitas ao Vale Sagrado dos Incas sempre são feitas no sentido Cusco – Ollantaytambo, partindo de manhã de Cusco. Nossa ideia era fazer do mesmo jeito, porém tivemos que mudar nosso plano para se encaixar com a disponibilidade do trens. No fim ficou até melhor, porque ao fazer o caminho no sentido inverso, pegamos quase todos os sítios com bem pouca gente, então deu pra aproveitar bem mais, especialmente para fotografia.

Começamos pelo próprio Sítio Arqueológico de Ollantaytambo, que fica bem próximo à estação de trens. Como pode ser visto nas fotos do local, os Incas construíram nas colinas diversas terraças. Dizem que elas foram feitas para experimento de plantio em altitudes diferentes. Com isso, eles podiam determinar qual a melhor altitude, e consequentemente temperatura, que cada alimento cresceria melhor. Não é por acaso que Ollantaytambo é também conhecida por ter o melhor milho do Peru, e talvez do mundo. É incrivelmente grande e saboroso. Se planta também muita batata por aí, e eles dizem que há mais de 400 espécies diferentes de batata na região.

Uma das coisas mais curiosas é que eles armazenavam a produção em pequenas cavernas abertas nas rochas, como pode ser visto na foto ao lado. Dizem que isso era feito devido à boa ventilação do local, fazendo com que o alimento durasse mais. Eles construíram também sistemas de ventilação nas rochas para melhorar ainda mais o efeito.

Partimos daí em direção a Pisaq (13°24’20.83″S 71°50’29.18″W), que fica a uns 50 km a leste de Ollantaytambo, já na estrada asfaltada. No caminho, passamos por várias cidadezinhas legais, como Urubamba, Calca, Coya, entre outras. Pisaq, ou Pisac, foi a minha maior surpresa da viagem toda. O sítio é imenso e extremamente bonito. Foi construído bem antes de Machu Picchu, porém não se sabe exatamente quando. Ouvimos falar em algo como o século XII. Nota-se bem que o estilo de construção não é tão moderno, as pedras não são tão bem talhadas, etc. É impressionante ver as diferenças no processo de construção dos locais. Percebe-se claramente o quanto a coisa ia evoluindo com o passar dos anos.

Pelas vistas, dá para notar o altura do lugar. A altitude média do sítio é de 3500 metros e durante a visita é um sobe e desce infernal. De todos os lugares que visitamos, esse foi onde eu mais senti a altitude e os joelhos. Não espere por escadas regulares com corrimão por aqui, muito menos elevadores e escadas rolantes. Isso não é Disneylândia. O negócio é pedra irregular mesmo, adrenalina! Como recompensa, uma natureza estonteante. A vista lá de cima é de arrepiar.

O Peru é muito conhecido por Machu Picchu, mas na verdade há muito mais o que ver. Uma pena que o turismo foque tanto em uma coisa só. Não deixe de visitar Pisaq com calma. Dê uma olhada no album de fotos feito lá.

Descemos das ruínas para o centro de Pisaq, onde tem um famoso mercado popular aos domingos, mas passamos aí na segunda-feira, aí tem bem menos gente. Almoçamos por aí com calma e visitamos algumas tendas. Mais e mais artesanato, pra variar.

Saindo de Pisaq, no caminho de volta a Cusco, paramos em Awana Kancha, que é meio que um sitiozinho bem legal com uma criação dos animais mais tradicionais do Peru: a lhama, alpaca, vicunha e guanaco. As primeiras duas são muito dóceis, e você pode caminhar no meio delas tranquilamente, inclusive dando-lhes comida. Já a vicunha e o guanaco são bastante selvagens, então ficam numa área isolada um pouco a distância.

Chegamos em Cusco no final da tarde mortos de cansado. Descansamos um pouco, saímos pra jantar e capotamos. Não tínhamos nada marcado para a terça-feira 19, então tiramos o dia para passear por Cusco, visitar alguns museus, etc. Complementei o album de Cusco com as fotos do dia 19, algumas bem interessantes.

Na quarta-feira 20, voamos de volta para Lima, onde daríamos cada um uma palestra naquela noite na Universidade Inca Garcilaso de la Vega. Na decolagem em Cusco, vi bem por que a pista do aeroporto tem quase 4 km de comprimento. Com o ar extremamente rarefeito nessa altitude, fica muito difícil acelerar o avião, por mais motor que se tenha. Voamos num quadri-jato BAe 146 da British Aerospace, avião muito tosco, asa alta, quadro motores turbo-fan, mas bem gostoso de voar. Mesmo com os 4 motores full power, comemos quase toda a pista para decolar e ganhamos altitude muuuito vagarosamente sobre um pequeno vale a sudeste de Cusco. Ao redor, montanhas imensas cercando tudo. Só após livrarmos um 20.000 pés de altitude, demos a volta aproando Lima.

Quando pousamos em Lima, os pulmões agradeceram por respirar ar úmido e com muito oxigênio. A diferença é brutal. O pessoal da universidade já estava nos esperando. Nos levaram até o hotel para deixar as bagagens e alguns minutos mais tarde fomos para o local das palestras. Era um auditório fechado dentro da universidade e estava bastante lotado. Imagino que tinha umas 200 pessoas no máximo. Demos as mesmas palestras apresentadas no CONEIS na semana anterior. Como tinha bem menos gente, foi mais bacana e interativo.

O pessoal da universidade, especialmente Santiago e Evelyn, que organizaram tudo, foi extremamente receptivo. Depois da palestra, saímos todos para jantar com mais um pessoal da universidade. Mais um pouco de comida típica, sempre maravilhosa. Saindo daí, fomos para o hotel e dormimos pouco, pois tínhamos que estar no aeroporto às 5h30 no máximo. Nosso voo de volta para o Brasil decolou logo após às 7h00 de Lima. Voamos de volta num Boeing 767-300 da Lan, bastante confortável e com um serviço de bordo muito bom. Parabéns pra Lan. Pousamos tranquilamente em Guarulhos às 13h50. Bagagens, aduana, tudo tranquilo. Peguei o voo para Porto Alegre às 16h45 e Tatiana foi de ônibus do aeroporto direto pra Campinas, encerrando os 12 dias de viagem pelos Andes.

Essa foi uma viagem que eu queria fazer já havia algum tempo. Sempre li bastante a respeito do Peru, especialmente sobre sua cultura e história. Meu tio Iram, grande viajante, já havia estado lá e também fez boas recomendações. Definitivamente é um país que merece ser visitado. É uma viagem bastante barata e muito rica culturalmente, uma viagem que certamente faz você rever alguns valores, prestar atenção nas coisas simples e principalmente na natureza. É muito bonito ver um povo que possui um grande amor por sua terra e sua nação, certamente algo que não se vê por aqui no Brasil, exceto em épocas de copa do mundo.

Fiquei muito feliz com a hospitalidade. Muitas pessoas ficavam bastante curiosas, e até muito contentes, por eu falar espanhol com fluência e entender perfeitamente 100% do que eles falam. Isso é uma coisa super legal e me sinto muito feliz por ter tido a oportunidade de aprender (e continuo estudando) espanhol bem. Seguramente a minha experiência com essa viagem não teria sido a mesma caso contrário.

O grande valor em uma viagem como essa é saber que você voltou melhor do que foi. Para muitos pode parecer mais um país pobre da América do Sul. Eu diria que certamente eles têm muito a lhe ensinar. Vá e veja com os próprios olhos. Depois me conte como foi a experiência. 😉

Bon voyage.

Machu Picchu

A correria andou grande nas últimas semanas e não tenho tido tempo para escrever. Mas vamos lá. Quanto mais o tempo passa, mais a gente esquece, e os relatos acabam não ficando tão fiéis.

Na sequência do post anterior, o motorista de táxi chegou no hotel para nos pegar às 5h20 da madrugada. Difícil acordar a essa hora com tanto frio. A temperatura nessa hora do dia está normalmente ao redor de zero graus. Nosso trem partindo de Ollantaytambo era às 8h00, então tínhamos 3 horas para percorrer o trajeto entre Cusco e Ollantaytambo. Bastante razoável.

Esse mesmo caminho pode ser feito também por via férrea, mas não é recomendável. Como falei antes, Cusco se encontra numa altitude média de 3400 metros. Já Ollantaytambo está situado a 2800 metros, pois está no Vale Sagrado dos Incas. A descida é extremamente íngreme, pois a média de altitude ao redor do vale é de 3800-4500 metros, e o vale é incrivelmente estreito. Literalmente uma fenda no meio da cadeia das imensas montanhas andinas. Em função disso, a viagem de trem é muito demorada, pois o trem precisa andar muito devagar e fazendo curvas com muito mais raio que um carro. Além disso, é quase impossível conseguir passagem de trem nesse trecho na alta temporada, pois são poucas as frequências diárias.

Partimos do hotel algo como 5h35 em direção à Urubamba (-13° 18′ 39.90″, -72° 6′ 54.77″), que é a cidadela que dá nome ao famoso Rio Urubamba, que percorre todo o vale. A estrada que vem de Cusco desce o vale chegando em Urubamba, que fica à noroeste de Cusco, 27km em linha reta, embora a distância percorrida seja o dobro disso ou mais, por causa da estrada sinuosa. De Urubamba para Ollantaytambo o caminho é plano, todo a 2800 metros, em um trecho de 20km mais ou menos.

Salkantay
Salkantay

Durante a viagem, ainda antes da descida para o vale, podemos ver a magnificência dos picos andinos, especialmente o Monte Salkantay (foto ao lado), com sua incrível altitude de 6271 metros, ainda que ele seja apenas o décimo quinto pico mais alto no Peru. Veja outras fotos desse caminho.

Chegamos em Ollantaytambo (-13° 15′ 47.30″, -72° 16′ 10.49″) às 7h00. Ollantaytambo é o último ponto da estrada no vale, pois daí em diante, até Machu Picchu, a colina é muito estreita e não há condições para se construir uma estrada. Há apenas a linha férrea que vai sempre margeando o Rio Urubamba. O mesmo taxista, e também guia turístico, Jonathan, iria nos buscar no próximo dia para fazermos o Vale Sagrado dos Incas. Combinamos com ele certinho o horário e ele se foi de volta a Cusco.

Como tínhamos ainda algum tempo e estávamos com fome, pois saímos do hotel antes do café da manhã, tomamos um desalluno num barzinho próximo à estação de trens. Logo de cara já deu pra perceber que o povo de Ollantaytambo é muito amigável e extremamente receptivo. É de se esperar de fato, pois para qualquer lado que se olhe, é uma quantidade incrível de turistas.

Nosso trem partiu às 7h50 (10 minutos adiantado) em direção à Machu Picchu Pueblo (13° 9’18.53″S 72°31’27.05″W), antes mais conhecida como Aguas Calientes. É fácil perceber o porquê de não haver uma estrada ali. A coisa realmente é muito fechada. Em vários trechos eu perdia a sincronia do GPS, pois o aparelho não conseguia receber o sinal de três satélites pelo menos, uma vez que era difícil ver uma boa porção do céu. A viagem de uns 45km tarda em torno de 1h30min.

Desembarcamos em Machu Picchu Pueblo às 9h15 e saímos caminhando para achar nosso guia, que supostamente estaria nos esperando na estação de trens. Esperamos algum tempo e nada, então resolvi ligar pro camarada. Celular desligado, puta que pariu. Bom, resolvemos achar o hotel e depois tentar contato com o guia por telefone novamente.

Machu Picchu Pueblo é um pequeno povoado situado a 2100 metros de altitude. A cidadela fica no pé de Machu Picchu. Como não há infra-estrutura em Machu Picchu, todo mundo se hospeda, se alimenta, etc, em Machu Picchu Pueblo. Para onde se olha, é só restaurantes, hotéis, pousadas, etc, tudo em função dos milhares de turistas que chegam na cidade todos os dias. Para se ter uma ideia, a média é de 3 a 4 mil visitante todos os dias, de todos os cantos do planeta.

Como são tantos hotéis e tudo com nomes semelhantes (geralmente algum nome Inca), entramos no hotel que julgamos ser o nosso e perdemos um tempão ali pois não achavam a nossa reserva. Claro, estávamos no hotel errado! Quando a Tatiana achou o voucher, a atendente nos deu a má notícia. Enfim, caminhamos mais alguns poucos metros e chegamos no hotel que de fato era o nosso. Como chegamos cedo demais, não havia quarto vago. A diária oficialmente começaria apenas ao meio-dia. A recepcionista pediu logo para o pessoal da limpeza agilizar a entrega de um quarto para que pudéssemos pelo menos largar as nossas tralhas e subir pra Machu Picchu. Em 20 minutos, estávamos no quarto, finalmente.

Respirar a 2100 metros nunca foi tão maravilhoso, comparado com os 3400 metros que estávamos em Cusco. Dava muito gosto de encher o pulmão de ar e sentir um pouco mais de oxigênio entrando em cada tragada.

Nosso guia, Johnny

Após descansar um pouco, tentamos contato com o guia novamente. Ele nos atendeu e disse que esteve nos esperando na estação quando o trem chegou. Não quis entrar no mérito e perguntei onde podíamos achá-lo. Combinamos de nos encontrar na estação dos ônibus que sobem para Machu Picchu dentro de 15-20 minutos. Assim o fizemos. 10h20 chegamos na estação de ônibus e encontramos o guia, Johnny, figura muito gente fina, que nos guiou por toda a visita à cidade sagrada.

Vale Sagrado dos Incas
Vale Sagrado dos Incas

Machu Picchu está situado a 2450 metros de altitude, quase 400 metros acima de Machu Picchu Pueblo. Esse trajeto só pode ser feito por um ônibus especial que parte a cada poucos minutos. A subida é um zigue-zague total, e quanto mais subíamos, mais magnífica ficava a vista do vale sagrado (veja foto ao lado). A única alternativa ao ônibus, que custa US$ 14,00 ida-e-volta (assalto!), é subir a pé, o que leva em torno de 1h30min e um esforço físico enorme, pois é uma subida muito íngreme.

Poucos antes das 11h00 estávamos no portal de entrada. Ali deixamos os pertences que não íamos utilizar, como casacos, etc. Por via das dúvidas, eu subi com um casaco, pois as mudanças de temperatura em altitude são muito bruscas. Como estava um sol animal, deixamos as roupas quentes no maleiro. Na sequência, organizamos o nosso grupo com o mesmo guia, que era em torno de 12 pessoas, todos latinos. Só nós dois éramos brasileiros. Havia colombianos, peruanos e costa-riquenhos também no grupo.

Passamos o portal de entrada e seguimos pelo trajeto recomendado, que começa por uma vista geral de Machu Picchu a partir de um ponto alto da cidade. Esse foi o momento que mais senti falta da minha lente grande angular 28mm, que esqueci em casa em função da correria. A lente que eu estava usando na foto ao lado era 45mm, o suficiente para não caber a cidade toda no mesmo quadro. Triste! 🙁

Ficamos um tempo parado aí admirando a paisagem. Muitas pessoas me disseram, assim como li muito na Internet, que ao se chegar em Machu Picchu, especialmente nesse ponto onde fiz a foto ao lado, se sente uma energia inexplicável. Talvez seja isso que leve tanta gente a Machu Picchu. O fato é que eu não senti nada disso, o que não me estranhou, claro, pois sou bastante cético. Mesmo não sentindo a tal energia dos deuses, fiquei maravilhado com o que estava vendo. A construção da cidade é majestosa. Logo surge a primeira pergunta: como aqueles doidos construíram isso aqui em cima, carregando essas pedras gigantes? Certamente deviam ter algum propósito muito forte e divino, porque deve ter dado um trabalho e tanto.

Para mim, nada que o homem possa ter construído chega aos pés do que a mãe natureza construiu. Na verdade, eu estava muito mais encantado com a beleza natural daquele monte de montanhas desenhando um cenário estonteante, do que com a cidade em si. Eu sempre fui louco por montanhas e nunca tinha estado tão perto de algo tão impressionante. A altura dos picos é impressionante. Só por isso, a viagem toda já vale a pena. Isso sim é coisa de Deus!

As oportunidades fotográficas em Machu Picchu são incontáveis. Decidi não metralhar muito para não sofrer demais depois tratando tudo. Fui fotografando numa linha mais seleta e apagando algumas coisas na própria câmera, já fazendo uma pré-seleção. O resultado final está na galeria de fotos de Machu Picchu e me pareceu bem bacana até.

No próximo post, vou falar um pouco mais na cidade e do passeio por ela, e emendo na sequência o Vale Sagrado dos Incas. Já adiantando, esse último foi uma grande e agradável surpresa.

Abraços.